O anormal número de visitantes que esta pacata casa acolheu hoje deve-se à coincidência entre a partida que me fez o João Espinho e as gentis referências da Juliana e do Dante, lá da outra banda do mar. É a ambos que agradeço terem-se lembrado destas vagas linhas aqui escritas. Se ao Saudade do presidente Figueiredo fui dar hoje através do contador de acessos, ao After the fall e ao seu antecessor há muito que batia à porta. O lamento é pelo post que a Juliana escreveu em jeito de despedida. Espero que ela volte depressa. por MCV às 21:35 de 15 abril 2005
Cadeia de Literatura
Ora bem, pela primeira vez nesta colectividade, e graças ao João Espinho, ali da famosa Praça da República, calha-me entrar numa cadeia. Então, a entrevista decorre assim:
Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
- Por muito difícil que fosse memorizar os diferentes Arcádios e Aurelianos, e depois de ter visto o próprio Montag, seria decerto os Cem Anos de Solidão.
Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção?
- "Pernambuco no tempo do cangaço" de Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho. É uma colecção de notas, notícias de jornal, ordens de serviço e outros documentos tendo como pano de fundo a carreira militar do avô do autor.
Que livros estás a ler?
- O 2º volume da obra acima.
Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
- Cinco livros que não tivesse lido. Assim sendo, não sei responder.
A quem vais passar este testemunho (3 pessoas) e porquê?
- À Lili - À Riacho - Ao Gato (que anda escondido) Porque blá blá blá... e espero que nenhuma delas me excomungue.
Obrigado, João, pela d(r)eferência. por MCV às 18:11
Mais uma concessão à bola
Eu sei que não percebo nada de futebol. E que vejo pouco. Mas ontem vi o meu Sporting. Vi o meu Sporting tal como vi a selecção durante o campeonato europeu. Com expectativa e com emoção. Ora o que não compreendo é esta euforia à roda do jogo. O Sporting procurou jogar ao ataque - de acordo. O Sporting jogou melhor do que o adversário - de acordo. O Sporting mereceu a vitória - de acordo. Mas o Sporting teve muita sorte, tal como teve a nossa selecção no campeonato europeu, particularmente frente à Inglaterra e à Espanha. Dir-se-á que não se chega a lado nenhum sem sorte - mais uma vez de acordo. Agora o que eu não vi no Sporting foi aquela sensação de favas contadas que o Porto mostrou por exemplo na chegada à final (quartos e meias finais) da Taça das Taças de 1984, na conquista de 1987 da Taça dos Campeões Europeus e até da Taça UEFA de 2003. Já o ano passado, como sabemos, houve alturas em que parecia ter terminado ali a carreira da equipa. Nessas competições, a forma como o Porto jogava, com uma segurança defensiva fora-de-série, e com um ataque sem grandes falhas, dava a ideia a cada momento que era só uma questão de minutos até o adversário cair. Não vi isso ontem, lamento dizê-lo. Claro que há adversários e adversários. E que uns acabam por pôr mais a nu as fragilidades do que outros. Mas eu não percebo nada de futebol. Também espero, desejo, que o meu Sporting ganhe a taça. por MCV às 12:19
Contra ventos e marés
É como vai a navegação. por MCV às 09:50 de 14 abril 2005
A coisa está assim
E todos os sinais estão nesta foto. Valham-me São Torpes e os bons petiscos. por MCV às 22:22 de 13 abril 2005
Um dia estranho
Ainda me hás-de explicar por que é que hoje, depois de tantos anos, apareceste no meu sonho. Ainda me hás-de explicar por que é que hoje, logo hoje que apareceste no meu sonho e depois de tantos anos, me telefonaste. Ainda me hás-de explicar por que é que hoje, logo hoje, tinha o telefone ligado. Hoje, que tantas coisas pequenas aconteceram, levando-me à irritação e à tomada de decisões que se vinham adiando. Logo hoje, depois da irritação com os ladrões, com o lixo que aí por anda, sim, acredito pouco nos homens, quando me dá a travadinha vem ao de cima o desprezo pela gente que rouba, que maltrata os outros. Aqueles que eu acho que só sofrendo na pele as bordoadas percebem alguma coisa. Se é que percebem. Não sou piedoso nem condescendente. Já deves saber isso, há tantos anos que me conheces. Logo hoje, apaziguaste-me com o mundo. Foi uma voz. Um forte sotaque. As lembranças. Até daquela noite em que quase te fazia desistir do casamento. Melhor assim, rapariga. Melhor assim. O rio Mira ia cheio mas nós os dois cá na mesma banda. Um pouco mais a norte, a esplanada do Habimar e aquela face que sorria. Eu nem precisei de perguntar quem eras. A fama precedia-te. Uns dias depois, apanhaste-me desprevenido à porta de casa, envergando a camisa dos toiros. O assobio quadrado que ouvi fez-me olhar à volta para ver qual das moças merecera tal agravo. E identificar o agressor. E o que vi foi a (des)conhecida que ficara bem gravada, a gozar comigo e ainda com o biquinho do assobio. Havia lá forma de não nos enrolarmos? Logo hoje...
Há coisas que não me surpreendem. Mas que mostram claramente o jornalismo que temos. Quando um jornalista faz uma reportagem e não sabe onde está, como há pouco na RTP. Sucede mais vezes do que se possa pensar. Não é preciso recuar ao verão passado. por MCV às 13:19
Restos de colecção (23)
Sonhei com V. (em 1913)
ou um certo francês das avós por MCV às 08:02 de 12 abril 2005
Restos de colecção (22)
Foto MOP (trabalhada a carvão) por MCV às 14:40 de 11 abril 2005
Notícias serôdias
A noite era já de Maio, 1º do dito, cacimbada e deserta, nas ruas do Alentejo marítimo. Ao abrir a porta, vi a figura plantada no eixo da via. Olhou para mim com um ar algo interrogativo, talvez por não contar ver alguém sair assim tão bem ataviado em local de vilegiatura. Cumprimentei-o como se faz no Alentejo. Boa noite. Não me respondeu senão quando eu já tinha dado uns trinta passos. Voltei-me para trás, vi-o parado no mesmo local. Na rua nevoenta, apenas ele e eu, já quase a dobrar a esquina. Disse-lhe então que o melhor era vir beber um café comigo, um ministro assim parado no meio da rua... Acho que não me respondeu. Nessa noite, no carro da E., ainda comentei que podíamos ter convidado o homem para o resto da festa. Ela achava que não. Dez anos depois, reparo agora que o homem não ficou parado no meio da rua. É o que diz a rádio, o que mostra a televisão. por MCV às 22:26 de 10 abril 2005
A fé na política
Não é preciso recuar muito para que nos argumentários políticos se perceba uma certa fé e uma certa aceitação, aparentemente inquestionada e inquestionável, de algum tipo de dogmas. É preciso recuar ainda menos para perceber que muitos dos que assinavam por baixo nessas cartilhas passaram a renegá-las. E ao fazê-lo quase o fazem com o mesmo fervor com que anteriormente as defendiam. Está o mundo cheio destes exemplos. Dir-se-á que é da natureza humana. Que seja. O que me custa a entender é que venham desses lados os clamores pela coerência. Que a coerência não é um dos atributos humanos, a não ser na procura da sobrevivência, parece-me evidente. Por isso faz pouco sentido que a exijamos. Menos faz quando não nos olhamos ao espelho. por MCV às 04:05