E a ser verdade o que circula na imprensa, o Reino Unido faz tábua rasa de decisões judiciais dos competentes órgãos portugueses, informando que a pena aplicada a um dos habituais integrantes do lixo que costumam exportar, não se coaduna não sei com quê.
Pelo que, e repito, a ser verdade o que se diz, continua a fazer todo o sentido condenar aqui e expatriar depois. Brincamos à justiça.
Bem sei que o Reino Unido não é signatário dos Acordos de Schengen. Mas também sei da facilidade com que um passaporte ou documento de identificação comunitário transpõe uma fronteira dessas que se dizem quase eliminadas. Fará assim algum sentido falar em penas de expulsão do território nacional? Não andamos todos equivocados?
Enquanto isso, aprova-se uma constituição e o Reino Unido continua a encolher os ombros à costumeira e criminosa escória que a gente sabe.
Por falar nisso, e mais uma vez a ser verdade o que nos conta a imprensa, qual será a pena em que incorre um indivíduo que rouba uma ambulância em serviço de urgência?
Espero que eles se queixem se a polícia lhes bateu. Pode ser que isso acabe por ter boa publicidade. Se não vai a bem, pode ser que vá à mal.
Eu sei que ando com azia. Desculpem-me, meus caros.
A verdade é que, à medida que as condições das estradas melhoraram, e melhoraram muito, à medida que os automóveis se tornaram mais seguros, e tornaram-se muito mais, aumentou a nossa sensação de segurança.
Para quem não tem o histórico dos automóveis com três velocidades, dos travões sem servo-freio, das direcções sem desmultiplicação e das estradas de maquedame ou apenas de terra batida e dos tapetes de alcatrão onde era necessária toda a cautela e um bom meio-metro de berma para que dois camiões se cruzasssem, para quem não tem essa experiência e nela não baseou a sua aprendizagem, é perfeitamente natural que o nível de confiança cega (todos nós temos um limite de confiança cega quando circulamos) seja alto.
É natural que habituado às vias actuais (ainda que algumas delas sejam ardilosas) não conte com uma curva de perfil transversal desadequado, não conte com um entroncamento mal sinalizado no final de uma recta larga e comprida, não se dê conta que num certo troço de auto-estrada, a visibilidade não se adequa à suposta velocidade de projecto.
Digamos que, inversamente mal comparado, se trata da ausência de necessidade que não contribui para o aguçar do engenho.
Tornaram-se os perigos menos evidentes? Creio que não.
Aumentou o limite da nossa confiança cega.
A confiança que nos permite descrever uma curva (excepto em algumas zonas do país) e esperar que não esteja um carro estacionado na via à saída da mesma.
A confiança que nos permite transpor uma lomba e esperar que não se encontre uma vala aberta a toda a largura da estrada.
Essa confiança tinha outrora um limite mais baixo. Na época do tomate (ainda acontece) não era raro tropeçar num reboque carregado deles à saída duma curva. Em dias de feira, poderia ser uma carro de parelha e um cão atrás. A certa hora do dia, um enxame de Faméis à saída de uma fábrica.
Para não falar de tapetes de alcatrão que terminavam de repente sem aviso. De estradas que passavam para dois terços da largura sem sinal e de muitas outras curiosidades, naturais ou não, que propiciavam o acidente ao mais incauto.
Nessa época estávamos equipados para enfrentar a coisa. Agora, aparentemente, não estamos.
Se há coisas que nos parecem ser diferentes ontem e hoje, esta é para mim uma delas.
As minhas primeiras estradas foram tortuosas, difíceis de seguir. Não precisei que me apontassem os perigos para saber que eles lá estavam.
É claro que em alguns locais havia sinais de PERIGO DANGER. Quase sempre em curvas e contracurvas antes de atravessar alguma ribeira ou rio mais importante.
Mas nunca precisei que me dissessem que era proibido ultrapassar onde não devia, antes de lombas, de curvas sem visibilidade, de cruzamentos.
Sermpre me fez mais falta a sinalização provisória. Essa sim. Mesmo que não tenha acertado nas divisórias de betão com que alguém se divertiu a bloquear uma curva sem visibilidade, cortando a estrada em toda a largura, sem que o tivesse sinalizado.
Vivemos hoje um tempo diferente. É necessário assinalar perigos evidentes, talvez porque as cabeças andem cheias de coisas que só atrapalham.
Talvez porque tenhamos ensinado mal as gerações que vieram depois a andar na estrada.
Talvez isso aconteça porque poucos são os que têm os tais atavismos que só se ganham ao fim de três ou quatro gerações com um volante nas mãos.
Será que estas considerações, perto ou longe de valerem alguma coisa, não se aplicam também ao resto das coisas?
Dava a coisa pano para mangas, se fôssemos pelos caminhos da confiança e da visibilidade. Fica para outra altura.
Acidente na E.N. 18 (Guarda ? Ervidel), em direcção ao Porto, junto ao Campo de Tiro de Alcochete.
Diria eu que é a 118, no sentido de quem vai para o Porto Alto.
É verdadeiramente impressionante a percentagem de erros neste tipo de informações.
Interessará assim tanto em que sentido se deu o acidente? Ou será que querem dizer que é depois do Campo de Tiro, para o lado do Porto Alto? Para quem vai do Montijo claro.
Hoje, mais uns ecos de progresso no teletransporte.
Não consegui encontrar nada de substancial sobre a notícia em causa.
Sabe-se bem como certas notícias são difundidas. Se quem as transmite não tem a menor ideia do que está a dizer, é muito difícil separar o trigo do joio nas linhas assim lidas.
Uma coisa é certa. Damos passos, damos passos e um dia destes dias teremos uma revolução inimaginável mesmo para aqueles que se detiveram com estas ficções.
Confesso também que há uma coisa que sempre me diverte nestas alturas de fazer contas à vida, a bola pois.
É que não se aproveita uma.
Será que cada um diz o que lhe apetece?
Será mesmo verdade que os computadores só servem como máquinas de escrever?
Mas à mão também se fazem contas. Aprende-se lá para a escola primária.
Confesso que sempre ouvi com as orelhas à banda o tal argumento do acréscimo de turistas à conta do Euro 2004.
Haveriam de vir, como vieram, as equipas, os jornalistas, os adeptos.
Que isso tivesse algum impacto no tempo posterior, sempre duvidei.
A França tem mais visitas desde que organizou o Mundial de 98? A Holanda? A Bélgica? A Coreia do Sul? O Japão?
Se têm, qual foi o aumento?
Que se mostraria o país, isto e aquilo, as televisões...
Basta já ter visto reportagens em uns quantos canais de televisão de acontecimentos desportivos como este, para saber que tudo isso são quimeras.
Portanto, estava céptico quanto a esta capacidade atractiva do país e ao seu aumento por mor do torneio.
Mas esqueci-me deles.
De São Pedro e dos outros. Do nosso António (seja Fernão ou Fernando) e do Baptista.
Quis o primeiro, e é a ele que devemos o tempo que temos e não aos manda-chuvas, já toda a gente o sabe, que a temperatura subisse e se mantivesse alta pelo menos nos primeiros dias da coisa.
O segundo deu festa em Lisboa, com alguma porrada nos habituais suspeitos pelo meio, e o último decerto descarregará não alho-porro mas martelinhos de plástico nas cabeças já atordoadas dos nossos convidados, mesmo que os jogos no Porto não tenham um calendário favorável a essa coincidência.
Ora esta temperatura que vamos tendo em meados de Junho, não sendo inusual, é decerto surpreendente para quem nunca aqui pôs os pés.
Sabemos todos como certos povos se deliciam com os prazeres do sol.
Ao encontrarem um clima assim, na ponta de um voo charter de poucas centenas de euros e cerveja a preços de saldo (digo eu, que não sei os preços que agora se praticam) é possível que voltem.
Depois, lá vem a questão. Será que isso é bom para todos nós?
Divide-se essencialmente em duas categorias:
O ponto de vista de quem não consegue prever as consequências desta ou daquela solução mal engendrada e o ponto de vista de quem já não vai estar ali quando os defeitos se evidenciarem.
Entre uns e outros, há os mais propensos à argumentação. Uns convencidíssimos de que o interlocutor não percebe nada se desatarem a falar em prumos, em traços, em cimento branco e em roscones. Outros mais radicais, usam o lapidar então o senhor não vê que assim é que está bem?
Quase sempre se torna cansativo e pouco prometedor rebater a inexpugnável lógica com que nos esmagam.
Das duas uma, ou o paciente acaba por se render se não se julga à altura das sólidas razões aduzidas ou entra na lógica do faz-se isto e não discuta comigo.
Neste último caso, corre sérios riscos de enfrentar continuados resmungos e sorrisos trocistas, se a coisa não descambar para uma greve de zelo.
Eles é que sabem, eles é que sabem.
E ai daquele que tenha encolhido os ombros e mais tarde ouse chamá-los com um venha cá ver a merda que fez!
Que não, que não estava assim quando se acabaram os trabalhos. Irrebatível. De facto não estava.
Como tudo na vida, a ideia de uma União Europeia é um cadinho de contradições.
A organização social dos homens é, aos olhos de um leigo, um processo demasiado complexo e cheio de incertezas, do qual se sabe apenas, e com o rigor possível, alguma coisa dos últimos dois mil anos.
Assistimos pelos relatos históricos a uma sedimentação de relações sociais com base num território, em ciclos de séculos.
Criar uma Europa Unida por decreto não será fácil. Deixar que ela se crie apenas pela mobilidade e pelas referências conjuntas dos cidadãos também não é garantido.
A questão da identidade é uma questão de escala.
À escala da aldeia, os da aldeia vizinha são forasteiros.
À escala da região, os da região ao lado têm outros costumes.
À escala dos países, os estrangeiros falam (ou não) outras línguas, comem outras coisas, manifestam-se de outro jeito.
Há ciclos de expansão de identidade e outros de recessão. Umas vezes defendemos a França, outras guerreamos os vizinhos do bairro.
Mas a Europa actual enquanto ensaia a moeda única, empurra petroleiros em risco de naufrágio, através de linhas de fronteira que ninguém distingue no mar.
Enquanto se comove com os atentados à sua civilização, degladiam-se os estados que a integram por protagonismos nesta ou naquela direcção.
Enquanto rasga estradas e vias férreas, preocupa-se com a excessiva atracção de alguns dos seus pólos.
Nada é garantido. A não ser que, em alguns séculos, uma realidade diferente terá lugar. Quanto tempo demorará, julgo que ninguém se atreve a palpitar.