Alavancar (IV)
Não. Achei piada ao desenho da alavanca. Fez-me lembrar uma cena que aqui se passou.
E é a alavanca o principal disto tudo – vendo que eu mentia, ao fazer-me desinteressado.
Ah sim?
É. Conheces os rudimentos da mecânica das alavancas?
Demos isso tudo no liceu.
Pois, na escola industrial no meu caso – não fazia eu a mínima ideia de que ele tinha andado na escola técnica.
E atão?
Estava aqui a compôr um artigo para a revista da Câmara. Agora andam todos azafamados a gastar dinheiro nestas coisas, é a fruta da época. Pagam-me para escrever banalidades até às eleições.
Não o fazia vendido à política. Ou à politiquice. Antes pelo contrário. E saiu-me assim: Fazes bem.
Terminei a mini-castello e pedi outra – Manel, não há mais fresca? Não queres beber nada?
Ele disse que queria uma mini. Uma mine. Sentei-me enfim em frente dele.
(continua)
publicado inicialmente em Agosto de 2013
por MCV às 00:28 de 19 agosto 2025 
Acidental
Fica-se com a ideia de que a
acidental ministra também não faria a menor ideia do que seria ser ministra.
por MCV às 14:54 de 18 agosto 2025 
Alavancar (III)
Como é que sei? Sei como sei o resultado de ontem do Portimonense, ou que a um rapaz da canoagem não o deixam ou ele não quer competir ou até mesmo que aí onde estás, há uns anos, não havia mesa, era a passagem para a casa de banho.
Era pois. Andas com atenção às letras do Tony. Também trauteias ou é só memória auditiva?
E esse
ou, disjuntivo, quer dizer que quem aprendeu a letra sem se dar conta não a pode trautear e vice-versa?
Ói! Temos filosofia barata! Precisão de linguagem... Nesse caso, aproveito para dizer que a tua resposta à minha pergunta
"Como é que sabes que a letra é do Tony Carreira?" não tem ponta por onde se lhe pegue.
Enfiando o gargalo da mini-castello na boca, fingi indiferença. Como à entrada do café.
Queres saber do que se trata? – perguntou, desmontando a minha pose.
(continua)
publicado inicialmente em Agosto de 2013
por MCV às 13:20 
Pagode
Pôr o pagode ignaro a debitar sentado nos estúdios das televisões dá como resultado que se «desejem condolências». Em poucos dias ouvi tal duas vezes.
por MCV às 22:46 de 17 agosto 2025 
Incêndios
Só alguém com escassos recursos intelectuais não tem vergonha de afirmar que o número de incêndios e a área ardida dependem do partido que governa.
Mas é desta gente mínima com viés partidário que está infestado o país. Tanto faz que seja do partido A ou do partido B.
por MCV às 22:38 
Casos exemplares
Há
alguns casos que despertam a minha tendência de "
olho por olho, dente por dente".
Instam-me a acompanhar o seu desfecho.
Este é mais um. Vamos ver o que acontece ao assassino.
por MCV às 15:50 
Boçal
A jornalista entrevista o boçal. O boçal afirma mesmo que se arrepende de ter querido agredir quem ia para o ajudar. É que só percebeu depois. Prende-se em inimizades aparentemente antigas para acusar este e aquele, que responsabiliza por afinal terem cuidado dos animais fugidos ao fogo que diz pertencerem-lhe.
É o retrato do bom boçal. O que pode matar por não ter percebido qualquer coisa que lhe disseram, que lhe fizeram...
por MCV às 15:41 
Alavancar (II)
Atão, pá!
Olhou-me de viés, como se não me tivesse visto entrar no café e não tivesse cruzado os olhos com os meus numa indiferença mútua, embora se saiba já que a minha indiferença era teatral.
Tás bom, Manel? – ele ainda se lembra do meu nome.
A contemplação dos pormenores das coisas sobre a mesa, referidos
a priori, levou-me a fazer uma coisa muito contra a minha natureza – reparos:
Pensava eu que já ninguém copiava letras de canções à mão!
Tentou um olhar de viés semelhante ao que fizera anteriormente, somou-lhe um quê de reprovação, e soltou um ah, sim?!
Pois pá, as miúdas hoje fazem
copy-paste, cantam com aqueles écrans onde passa a letra, se calhar já nem escrevem com esferográfica.
Karaoke – disse ele com ar enfastiado. Não se trata de nada disso. E são só as miúdas?
Entregas-te a grandes reflexões: Tony Carreira, Marcelo e isso é o quê? Uma alavanca?
Como é que sabes que a letra é do Tony Carreira?
Petrifiquei. Mal consegui virar-me para trás e pedir com voz pujante ao Manel (ao Manel do café) uma mini-castelo. Castello, com dois éles.
(continua)
publicado inicialmente em Agosto de 2013
por MCV às 09:57 