Pois é. Não conheço uma única pessoa por detrás dos blogues que leio.
E não há mais do que uma que me conhece bem, que de vez em quando vem aqui espreitar.
Descontando as conversas electrónicas, os mails e os comentários trocados aqui e ali, com algumas delas, sempre numa amável harmonia, não há mais conhecimento.
Duvido que alguns dos meus amigos e conhecidos alguma vez tenham tropeçado nestas linhas.
É pouco provável.
Apercebo-me de que não é normalmente assim.
Em muitos se encontram vínculos de cumplicidade com este e com aquele, que parecem revelar mais do que um conhecimento electrónico.
Assisto a debates acesos, uns mais urbanos do que outros. Alguns manchados pelo ataque pessoal e anónimo que não se chega a perceber se é à pessoa (conhecê-la-ão?) se é só aos argumentos.
Tenho passado ao lado disso.
Por um lado, não creio que o aqui escrevo seja suficientemente polémico para despertar a ira alheia.
Por outro, não tenho por hábito marcar obrigatoriamente a minha discordância com o que leio.
Só lamento que a troca de ideias não se faça de forma mais razoável e edificante.
Grande parte dos argumentos apresentados em crítica e contra-crítica são insustentados. Por vezes, inteiramente disparatados:
“Se te vestes de verde, é porque costumas ladrar ao lado do teu cão. Pois fica sabendo que a caravana passa!”
Há muito disto. Que chegava para um anexo de compêndio de lógica.
Mas há também muita escrita lúcida e intemporal. Discorrendo sobre os eventos sem a carga do momento e sem ser tolhida por hemivisão.
Apesar de considerar que não há nada mais inútil do que uma opinião, continuarei a dizer o que vem à cabeça.
É hoje!
Decidi solidarizar-me com a notícia que ouvi há pouco.
Vou sair por aí à procura das origens da vida.
Então não foi isso que me disseram que a sonda Rosetta vai fazer?
Eu por mim posso dar uma ajuda.
Vou investigar. Afinal deve ser mais fácil do que responder correctamente ao rol de perguntas da Brigada.
O que eu gosto do nível dos nossos noticiários!
Às vezes, fazemos coisas de que nos admiramos.
Ontem (hoje, de madrugada) foi o ficar a assistir a um canal onde passavam os habituais anúncios à americana.
Tratava-se de uma pequena câmara digital, com software de edição incluído e uma pequena bolsa de cabedal(?).
Fiquei amarrado às explicações e aos argumentos.
No meio disto tudo, vem-me sempre à memória o argumento lapidar de um dos meus velhos amigos, economista de formação: "Se se anuncia um remédio para os piolhos, é porque vende. E se vende, é porque há quem tenha piolhos!"
Suponho assim que, se existem estes espaços publicitários, é porque vendem.
Embora eu me espante com este tipo de publicidade à americana. E pense que em Portugal não resulta. Mas só posso estar enganado.
Outra coisa que vem de ontem, é um certo painel de fotografias num restaurante.
Painéis de fotografias em restaurantes são coisas comuns. Uns têm mais caras conhecidas do que outros, mas é uma moda que pegou.
Não é um resultado agradável.
É até confrangedor. É o povo na sua expressão de olhar para o passarinho.
Mas depois levanta-se uma questão.
E quando o tempo fizer das suas?
Quando toda aquela quantidade de fotos a fugir para o vermelho se converter em documento histórico?
É certo que há diferenças entre as fotos de um olhar e de outro.
Há fotos com mais interesse do que outras.
Eu que tenho muitas dúvidas quanto ao que é arte e o que não é, às vezes fico a olhar para certas fotos de mão não profissional e vejo uma qualidade impressionante.
Não foi o caso naquele painel.
Mas é o caso, entre outros, de uma foto que possuo que retrata a praia da Zambujeira em 1932. Todo o povoado coube na película.
Ou de uma outra de um camião nas margens do Guadiana no final dos anos 50.
Ou aquela da L'Étoile nos alvores de 50, com os vestígios da guerra ainda visíveis.
E fico-me a pensar.
Nos dias de hoje, com tanta máquina de filmar e fotografar sempre presente, que legado deixaremos aos vindouros?
Será tudo mau? Ou o tempo encarregar-se-á de lhe dar alguma beleza?
O Sr. HB9GJDT FGT S673GA DX SAU7222 esteve cá em casa a jantar.
Passou a noite a dizer que nunca compraria certo casaco que vira numa das lojas mais caras de Lisboa, só para jogar às cartas.
Completamente obcecado com a situação, sabe-se lá por quê, foi para casa e narrou a experiência no seu blogue. Foi de resto muito gentil com os anfitriões, como é seu apanágio.
Os comentários começaram a chover.
Diz um que "...só os porcos capitalistas compram casacos só para jogar poker com o dinheiro do proletariado..."
Diz outro que "...não percebi. Então o casaco é só para as cartas ou também serve para outras ocasiões? Quanto é que custa?..."
Outro ainda comenta "... que merda é esta? Que sítio é este? Isto é um blogue?..."
Um pouco abaixo, há quem diga que "...os casacos são como os colchões, eh eh. O uso é que é importante! Pois. ..."
E ainda quem sugira "... e se pagasses os impostos, pá? Cambada de mafiosos, que só cá andam a espezinhar o pessoal! Casacos, hem? Ainda há coisas destas? Sim, porque você é uma coisa qualquer vestida de..."
A tudo isto, o Sr. HB9GJDT FGT S673GA DX SAU7222 nada respondeu.
Deve, por certo, continuar a matutar no casaco. Que ao que me lembro, era verde com uma discreta quadrícula amarela.
imagem adaptada de por MCV às 06:23 de 23 fevereiro 2004
A ignorância dos riscos
Já aqui falei sobre riscos, a sua ignorância e a sua prevenção.
Uma história tão velha como a da sobrevivência.
As novidades quase sempre acarretam novos riscos. Para muita gente desconhecidos.
Foi assim com o cavalo-de-ferro, com a energia eléctrica, com o automóvel.
Com tudo o resto.
Hoje, a evolução rápida no acesso a certas coisas fez com que muita gente lide com coisas que não domina por atavismo. Se é que filho de peixe sabe nadar.
A novidade não são as coisas novas. São as coisas a que nunca se teve acesso.
Das mais simples ou seguras às mais complicadas ou arriscadas.
A ignorância de regras há muito conhecidas de outros, faz com que se corram riscos desnecessários e ridículos.
Vem isto a propósito de correntes para a neve. Podia ser a propósito de outra coisa qualquer, como banhos na praia ou canalizações de gás.
Não, não é uma casa apalaçada.
Nem um mimo daqueles construído à imagem de não se sabe o quê.
Nem um monte no Alentejo, por razões óbvias.
É outra coisa.
É uma certa casa que me aparece nos sonhos e da qual já conheço os mais ínfimos pormenores.
A garagem em rampa, ao nível do 2º piso. A escada em caracol das traseiras que dá acesso àquela porta de que ninguém se serviu durante anos, está tapada pelas heras e afinal é tão bonita.
O desvão do telhado compartimentado a meia altura.
A oficina-laboratório de janelas sombreadas a betão.
Tudo isso muito insistente e consistente.
Às vezes, chego a pensar que se trata da topologia distorcida habitual. A casa não é outra senão a que tão bem conheço.
Mas toda a envolvente o nega. A ribeira, as ruas em socalco, o pequeno hotel que funciona nas traseiras, tudo isso é ficção. Tal como a casa.
Os barcos da CP valeram-me o único castigo em toda a escola primária.
Naquela parte em que se aprendiam os rios e as linhas de caminhos-de-ferro face ao tradicional mapa na parede, a minha insistência, já não sei porquê, em incluir os barcos da CP e uma linha imaginária a traço-ponto sobre as águas do Tejo, valeu-me a reprimenda e o mapa como panorama durante meia-hora.
Pior a emenTa que o soneto. Será que vem daí o meu fascínio por mapas? Acho que não, acho que vem mais de trás.
E a teimosia também.