E voltou de novo, manhoso, o cheirinho a alcatrão. Desta feita é corte de via esquerda e central, para manutenção da via. por MCV às 06:09
A Terra não é esférica (II)
(clicar para ampliar) BENEDY, H.; “A Terra não é esférica...”, Lisboa, 1952, fig. 3, p. 31 por MCV às 03:06
A Terra não é esférica
Este livro figurava numa estante em casa de uns tios-avós. Não foram poucas as vezes que, em menino, o retirava de lá e me punha a folheá-lo, tentando entender o fio das razões ali expendidas. Era uma espécie de íman inconsequente, do qual me livrava ao fim de pouco tempo. E sobre o qual ouvi a minha tia discorrer, afirmando que era obra de um amigo do meu tio, que assinara com um pseudónimo. Suponho que em adulto terei dado nula importância ao facto de o ter ali à mão. Ou talvez o tempo que me demorava lá por casa fosse cada vez menor, não sei. Sei que apenas soube do desfecho que disse respeito ao recheio da casa, mortos os tios-avós, e da certeza de estar entregue a gente pouco mais do que analfabeta, a única coisa que me ocorreu resgatar foi o livro – este livro e não outro qualquer. O facto de a memória me ter traído em certa medida, rotulando a obra com um redonda onde haveria de ser esférica, fez-me perder o norte quando me dediquei a procurá-lo, há alguns anos. Recentemente, por um acaso qualquer, ocorreu-me tentar variações e acabei por escrevê-lo direitinho na pesquisa do Google. Hélas! Fui cair na Livraria Hesperia em Saragoça, depois de passar pela Flat Earth Society. E verifiquei que também existe na BN. O que seria de esperar, é claro. Lá o arrematei. Chegou a hora de apanhar de novo o fio à meada. E de comparar as nossas crenças actuais com as do autor. Creio que terei matéria para uns quantos posts.
Do cheiro que sai das páginas, libertam-se falsas memórias. Vejo de novo o cenário de tantas recordações agradáveis. por MCV às 21:17 de 14 setembro 2007
E se...
Este livro que acabei de receber, vindo lá das bandas do reino de Aragão, dali de ao pé da Virgem do Pilar, dos bares onde me encharcava em licores e cucarachas, fosse o mesmo? Há qualquer coisa neste cheiro das folhas... Há mesmo qualquer coisa. Qualquer coisa de estranho. Ando a ficar muito sujeito à subjectividade... Hoje é um dia notável. É mesmo. por MCV às 11:49
O murro canhoto
Sobre a agressão ou tentativa dela de Scolari a um sérvio, apenas me ocorre repetir o que disse várias vezes a quem estava comigo a ver o jogo, muito antes do golo da Sérvia: Por que raio está o homem com tão má cara, se até está a ganhar o jogo?
As imagens da RTP serão a esse respeito eloquentes. por MCV às 20:23 de 13 setembro 2007
Hoje são 30 anos que passam. E lembro-me da mesa de pedra, do leitão pendurado, das palavras do teu Pai, da taberna da estação em que eu estagiara tantos verões antes, com garrafas de Bussaco e presunto às talhadas. Lembro-me de um alterado cheiro a cortiça que vinha de uns painéis no tecto e de talvez já o ter nas narinas antes disso, anos sim. Anos em que a tua casa era apenas um local onde se ia por outros casos. E lembro-me do regresso sem luz. Da estrada de luar*. Da vertigem desse Setembro. Talvez o mais famoso de sempre. Eras tão novinha. E éramos tantos à volta uns dos outros. Mais de trinta. Como os anos que hoje passam.
Adenda às 21:52 - * Fui ver as fases da Lua. Nesse dia era quase Lua Nova. por MCV às 20:12 de 12 setembro 2007
Bela travoada! por MCV às 22:40 de 11 setembro 2007
Era imoral se o fizesse...
[a PJ considerasse os McCann imediatamente suspeitos]
Ontem, julguei ter ouvido isto da boca do director nacional da PJ. Achei a barbaridade tão grande que pensei ter ouvido mal. Hoje, reouvindo, verifiquei que não me enganara.
Há frases que dizem tudo sobre a capacidade de quem as profere. Pensava eu que pagávamos à polícia para não eliminar ninguém à partida. E que a moral não era chamada para estas coisas. Afinal...
Não quero dizer com isto que ache seja seja o que fôr sobre quem fez o quê. Acho apenas o que disse acima. E só isso. por MCV às 21:38
ADN
Muita desta gente que tanto fala de ADN não faz a menor ideia do que é que está a dizer. Começando por aquela senhora que foi para a Tailândia em 2004 ou 2005, após o grande maremoto, segundo ela, ajudar a reconhecer os corpos dos portugueses. A todos eles faria talvez falta um bocadinho mais de Matemática na cabeça. De lógica e cálculo combinatório. Isso já ajudava a não se produzirem tantas asneiras. Mas sem bom senso... por MCV às 20:29
Nova Iorque, grelhadores e autoclismos
Há um adágio que diz guarda o que não te faz falta, terás sempre o que precisas.
Faz por estes dias quarenta e cinco anos que escutei da boca do meu Pai, as suas impressões da sociedade de consumo recolhidas em Nova Iorque. Dizia que pelo lixo encontrado nas ruas se podia fazer uma ideia do que era. Essas palavras não mais as esqueci. Talvez pela tenra idade que tinha na altura e pela novidade que encerravam.
Não sou propriamente incapaz de me livrar das inutilidades, dos objectos avariados ou partidos, das coisas obsoletas, dos papéis amarelecidos. Mas guardo muita coisa. Um destes dias, desfiz-me de parte de um grelhador eléctrico. Guardei o que me pareceu não me fazer falta. Ontem, reparei um autoclismo de usar e deitar fora com peças desse grelhador. Uma delas era mesmo o que eu precisava.
Quarenta e cinco anos depois. por MCV às 18:55 de 10 setembro 2007
Eu gosto de livros. Não sei de que tempo vem esse gosto. Se da BD do tempo em que só lia as maiúsculas de imprensa, se de um pouco mais tarde quando já decifrara as minúsculas tipográficas. Mas vem de longe. Gosto de livros mas gosto mais da estrada. Suponho que terá sido nela, por via dos sinais ali em cima representados*, que aprendi as tais maiúsculas de imprensa e, com elas, a ler. Gosto da estrada. É nela que me sinto a realizar o sonho de criança – o que é que eu queria ser em adulto? – ajudante de camionista, daqueles que viajavam na caixa de carga, de preferência em pé. Gosto da estrada. É nela que deixo o mundo entrar-me pelos olhos. É nela que percebo as diferenças que há por trás dos montes, após um grande rio ou para lá de grandes planícies. Gosto da estrada. É por ela que chego à fala com pessoas que me contam maravilhas ou que me dizem do comezinho. Mas do comezinho alheio. Gosto da estrada. É por ela que chego a cores e a cheiros. É por ela que chego a frios e a calores. Gosto da estrada. É nela que enfrento às vezes a desgraça, a morte. A violência dos elementos e a miséria humana. Gosto da estrada. É nela que aprendo mais do que nos livros. Mas eu gosto de livros. E, se é mais do que provável que nunca chegue a ler todos os livros que juntei, também é certo que levarei a minha conta das estradas dos outros para a cova. Ou das estradas que os outros inventaram a partir das estradas que percorreram. Mesmo sem terem saído de um mesmo local. Nunca confundirei a sabedoria com o tamanho da biblioteca ou com o rol de livros na cabeça. O que não falta são burros carregadíssimos de livros e de citações. Aprecio antes a simplicidade do raciocínio e a depuração de argumentos. A brutalidade da luz, sem rodeios. Se acaso ela vem cheia de estrada, percorrida ou lida, tanto melhor.