Não percebo nada dessas coisas. Psicologia colectiva, ânimos de massas.
Gostava de conhecer ensaios razoáveis sobre o assunto. Não conheço. Havê-los-á?
Noto, creio que todos notamos, o desalento generalizado.
Que origina o ressentimento, a procura de culpados, quase a revolta.
Entrecortados por surtos de euforia associados a esta ou aquela febre.
Em dias, tudo passa. Pior, passa rapidamente da euforia à depressão profunda.
Arrasta-se isto há anos e anos. Aparentemente com efeitos cumulativos. Mesmo que tenha havido um ou outro período de contraste.
Só me pergunto uma coisa, alguma vez terá sido diferente? Nota-se mais hoje porque tudo é mais visível? E porque há mais gente visível?
As grandes motivações não são todas elas como as paixões individuais? Efémeras, voláteis. Existirão mesmo?
O país está deprimido. Leiamo-nos uns aos outros, é o que se vê.
Quanto ao futebol, essa erva dos milagres, lembrem-se quantos dias durou a vitória do Porto.
Ganhemos ou não o torneio, em quarenta e oito horas a coisa volta ao que era.
Leiamo-nos uns aos outros. Desânimo.
Alguma vez terá sido diferente? O que é que é preciso que aconteça para os corações irem ao alto e lá permanecerem por uns anos?
Estive um mês em prisão preventiva.
Melhor dizendo, trinta e três dias.
O bom comportamento valeu-me um fim de semana em casa.
Mas ainda assim a pena que sobre mim podia desabar, não me deu para grandes euforias.
Nunca pensei fugir à justiça. Sabia bem que era uma ideia inútil.
Pena de morte era o que constava da sentença. Assim tão grave? Sim. Mas há hipóteses de comutação em liberdade vigiada, diziam-me com ar pouco seguro.
Na noite que antecedeu o cadafalso, fugi à guarda do corredor da morte e, às escuras, nos lavabos, contemplei demoradamente a paisagem.
Um avião. Três ambulâncias cujo único sinal era a luz azul, nada de gritos. Pouca gente na rua.
Via os reflexos das luzes nos tejadilhos dos carros e era tudo. O único brilho que podia ter era esse.
Comutaram-me a pena. Moisés intercedeu por mim, soube-o na altura.
Às vezes dá-me para ler a sentença. Liberdade vigiada doravante, uma vez que o réu tem apenas doze anos.
Em letras pequeninas, porém, lá está:
Caso o comportamento futuro não seja conforme ao estipulado nos artigos acima, esta sentença é reversível, em qualquer altura, com ou sem notificação prévia.
É a vida!
Poucos posts deste blogue incidiram sobre a actualidade.
E muito menos incidiram sobre a política nacional.
Alguns que me lêem há mais tempo terão antevisto uma posição política aqui e ali. Mas nada de muito preciso.
A razão já a anunciei e enunciei aqui. Se és anónimo, não deves falar muito.
Mas, a ser algo mais do que sensacionalismo jornalístico o corrupio de notícias que nas últimas horas sai das rádios, se lê nos jornais, portugueses e estrangeiros, e surge nas televisões, temos um problema.
Goste-se ou não do que este governo tem feito, se o homem do leme sai agora e se transfere para Bruxelas, as notícias não são boas.
Lá está a tal diferença entre país e Europa, de que já aqui falei. Se um presidente de câmara faz um bom trabalho e ascende a primeiro-ministro, pouca gente se queixará. Mesmo os que perdem o autarca.
Se o primeiro-ministro fez um bom trabalho ou não, cada um terá a sua opinião.
Na minha, fez em muitas coisas e falhou em outras. Como sempre, como todos os outros. Uns mais, outros menos, outros ainda muito menos.
Se é da minha cor? Não, não é. Mas é talvez o mais próximo que consigo arranjar. Por isso, a minha opinião não é asséptica.
O que me parece é que, a acontecer o que se diz, o país vai entrar numa fase que não agradará a ninguém, da esquerda à direita.
A ver vamos.
Soubéssemos nós o que nos faz gostar de um lugar e não apreciar outro.
Arranjamos sempre uma argumentaçãozinha, na base do podemos sempre dizer que...
Eu não sei o que me faz gostar das Caldas da Raínha.
Também não me recordo de quando lá fui a primeira vez.
Não faço ideia se houve algum impacto especial, não tenho memória de algo marcante.
Tenho outrossim, uma colecção intervalada de pequenas fotos na retina que me embalam.
Acordar sobranceiramente ao parque em solarento dia de Ano Novo e ter um postal ilustrado diante dos olhos.
Passar pela Rua da Amargura e dar conta disso.
Pisar as folhas secas dos plátanos da mata e ler os entalhes nos troncos.
Correr o mercado com um saco de laranjas. Por quantas vezes?
Ficar enfeitiçado pelas fachadas envidraçadas dos pavilhões.
Se eu disser que até a rebarbadora que comprei na antiga loja de ferramentas me proporcionou desfrutar de ambientes perdidos, alguém achará que há algo mais por detrás desta fixação com o lugar. Companhias, talvez. Companhias, também.
Bifes em cervejarias.
Talvez Capri de Pousão coado pelas telas de Malhoa, no museu amarelo. Seria amarelo da primeira vez que o visitei? Cor-de-rosa?
A memória atraiçoa-nos a cada passo. Quantas vezes não é ela própria mais dourada (cor-de-rosa?) do que os factos...
imagem adaptada de foto em por MCV às 13:57 de 24 junho 2004
Discriminação
Nos tempos que correm, esta é a palavra proibida.
Mas, na vida real, a discriminação na forma de escolha, é o pão nosso de cada dia.
Repisando a frase que nos cataloga a todos como humanos mas diferentes uns dos outros, se somos diversos é natural que sejamos uns e outros mais capazes para certas tarefas.
Acho que sei para que tipo de tarefas não presto. Julgo saber quais posso executar com maior facilidade e eficácia. Neste juízo, estarei enganado em algumas coisas. E haverá até aquelas tarefas sobre as quais nada saberei, o que me impede de ter uma ideia do meu eventual desempenho.
Parece-me utópico que cada um tenha incumbências apenas em áreas onde desempenha bem. Mas parece-me razoável que se façam escolhas dos supostamente mais capazes.
Se o são ou não, isso é outra história.
O que me parece mau é partir do princípio que todos, sem excepção, estão à altura desta ou daquela tarefa.
Que não se deve descriminar por isto ou por aquilo.
Também me parece mau que se ataque tanto a estupidez.
Não me parece que a estupidez seja muito diferente dos pés chatos, da altura ou da cor dos olhos. Ninguém fez muito por nascer assim.
Os onze que restam são todos da União.
Dos que se foram, Bulgária incluída, só os nossos vizinhos eram da casa.
Isto para dizer que quando se fala de Europa, ninguém sabe do que fala.
O mesmo se poderia dizer de quase todos os assuntos, é certo. Mas da Europa, que tão desapaixonadas opiniões suscita, não há muito a dizer que não seja asneira.
Coloco-me obviamente lá no meio, no meio dos disparatados com faladura. Se tantos falam, mais um não fará diferença por certo.
Quando se fala de Europa, é logo à partida necessário estabelecer do que é que se fala.
Se do semi-continente com fronteiras imprecisas se da União de Estados saída já não da ferida mas da crosta da última guerra.
Quanto à primeira, não conheço compêndio que defina os seus limites com exactidão. Não sei se existe uma linha de festo nos Urais aquém da qual sejam todos europeus. A sul da cordilheira, aponta-se a Porta como limite oriental sul da civilização aqui contida. O que cria o tal problema de dividir Rússia e Turquia e incluir ou não partes da Ásia (?) Menor como Chipre e países outrora inclusos na U.R.S.S..
Claro que estas coisas são móveis e dependem muito dos interesses do momento.
Se os russos se encarregaram de povoar o Império mais ou menos eficazmente, também a ilha conhece gesta grega de longa data.
Mas ser europeu ou não em certas zonas é apenas uma questão de saber onde passa a linha, nada mais do que isso.
Já quanto à segunda, não é bem assim.
Sabe-se com alguma precisão quais são as fronteiras, embora haja algumas bizarrias.
Saber que se é europeu UE, aceitar que se é europeu UE, é mais fácil e pode dar milhões.
Mas pelo que parece obriga a ter que desvalorizar num futuro mais ou menos próximo, as cores nacionais que tanto brilho deram às ruas e praças do país.
É aceitar o dinheiro que vem dos impostos dos longínquos escandinavos e ter que encarar a bebedeira dos bretões do lado de lá do canal, como se uns e outros fossem da Beira ou do Algarve (não estou a chamar patos aos beirões nem bêbedos aos algarvios, ou vice-versa!).
É como já referi aqui, tomar medidas para evitar que um petroleiro se afunde ou que polua e não mandá-lo para o Ribatejo, rio acima, como se isso não afectasse a todos.
É combater os incêndios quando deflagram e não empurrá-los para o concelho vizinho.
É sentir os mortos de Madrid como se fossem de uma cidade portuguesa.
É planear estradas para Varsóvia como se nos levassem até ao Alentejo.
É aceitar que os nossos destinos sejam decididos longe das coisas que conhecemos e à revelia das pessoas das quais sabemos o nome.
Nessa altura, fará pouca diferença que seja o Minho ou Trás-os-Montes, perdão a Alemanha ou a Itália a ganhar o Europeu.
Como não faz que o primeiro-ministro seja de Lisboa, de Boliqueime ou das Donas.
Alguma vez lá chegaremos?
É inevitável. De vez em quando, o registo das pesquisas que aqui caem tem que vir a público.
Uma súmula das mais curiosas:
(a grafia é da inteira responsabilidade dos buscantes)
1 homens idiotas
2 fotos da ria cadillac pelada
3 CLIPART IMAGENS CHEFE
4 onde houve um sismo ?
5 botas caneleiras
6 grelhadores de frangos
7 pintores que faziam suas obras em papeis quadriculados
8 felicitar aniversariantes
9 blog entender mulheres
10 A contribuição de Zenão para os dias de hoje
11 sandes de paio
12 siga por aqui
13 senha do rio zezere
14 chapeu chaves
15 casamentos sines
16 o que écran?
17 "o que é um intelectual"
18 modelos de borla
19 msn conversa
20 MORTES NO DECERTO
21 compro carrinha de nove lugares
22 definicao de anedota
23 O QUE PREJUDICA O TABACO Á SAUDE
24 Fotos de escravos romanos
25 O QUE É A SONOPLASTIA , E PARA O QUE SERVE
26 mulheres disputam força bruta
27 qual o indicativo par ligar de portugal para o peru
28 frases engraçadas, arquivo morto
29 02 de novembro funcionario publico
30 palco do H
31 exemplos de disparates
32 materia para os testes escritos da guarda nacional republicana
33 festa privada 22/05 fotos
34 QUANDO É QUE SE VAI A INSPECÇÃO AUTOMOVEL
35 fotos sado mulher manda
36 frases sobre a desilusão
37 filhos nascidos no canada
38 caixoes bizarros
39 site da web que tenha uma novidade muito louca
40 delapidou paredes
41 sócrates espertalhão
42 tecnicas fazer barba
43 carros pensantes
44 fotos sogras de merda
45 Quem é o Lourenço do Sporting
46 frases bonitas matematica
47 as facanhas de bill gates
Quem olhe para isto sem atenção, pensará que aqui há de tudo como na botica.
Não é bem assim.
O Dr. S. morreu há alguns anos.
Desde que me lembro, a bandeira nacional surgia na varanda da casa dele do nascer ao pôr do sol, em dias de domingo e feriados nacionais.
Andei há pouco pelas ruas e nunca vi nada assim. É difícil apanhar um ângulo que não traia a nossa condição de portugueses republicanos.
Mas na varanda onde morou o Dr. S. não há bandeira.
Há oito anos, enquanto Poborski passava a bola por cima de Vítor Baía, começava a atravessar o vale de Loures, em cima do altaneiro viaduto do IC18.
Há quatro anos, enquanto os turcos sofriam o primeiro golo, já tinha passado Alcácer rumo a sul. E dias depois, a senhora à minha frente algures no trânsito urbano pensou que era com ela que as buzinadelas dos demais se metiam. Nuno Gomes abria as portas da final, que o tal penalti no último minuto fechou de vez.
Tal como muitos anos antes, de eléctrico para a Graça, brotava dos rádios dos circunstantes mais um golo dos endiabrados coreanos a que Eusébio e os outros puseram cobro numa alucinante segunda parte entrevista em televisão comunitária, enquanto o meu pai bebia mais um café algures no caminho de casa.
Mesmo que não se seja fã destas coisas, elas ficam-nos na memória. Porque será?