Eu sei que é esquisitice. Mas cada qual tem as suas.
Sempre embirrei com os calendários que, por terem a sua regra tipográfica assestada às cinco semanas, juntavam o 24 e o 31, o 23 e o 30.
Não vos falaria disto se não tivesse estado numa repartição pública o tempo suficiente para reparar num belíssimo calendário emoldurado a madeira, daqueles à moda antiga. E lá estavam as cinco linhas, apenas as cinco linhas, o 23 enfiado a meias com o 30, o 24 com o 31. Não há respeito. Amanhã e depois são meios dias, portantes.
As janelas, do outro lado da auto-estrada, todas elas mostram reflexos de luz vermelha.
Como num incêndio de madrugada de verão.
No mesmo local onde vi um solitário auto-tanque cortando a manhã, um desses dias de inferno, rumo ao centro do país. Silencioso, em emissões de azul, dessa vez.
No rádio, o mesmo programa de há vinte anos. As mesmas vozes, umas só minhas conhecidas, outras perdidas nas serranias, falam do lugar, dos lugares que há no sul.
Nem tudo é tão diferente.
Herdei dos meus antepassados esta aversão às compras a prestações.
Ou talvez não fosse aversão, fosse impossibilidade.
Jamais possuí aquela porra em plástico que dá acesso à ilusão dos cofres cheios.
Vivi sempre com o dinheiro que tenho em cada dia e nunca com o ovo no cú(?) da galinha.
Um destes dias, pediram-me o cartão de crédito.
Como a minha resposta fosse negativa, seguiu-se uma inspecção visual.
Um mero cartão de débito é para desconfiar...
Na cidade, desaprende-se. Pequenas manifestações da natureza a que estávamos habituados, esquecem.
Falei disso aqui há uns meses.
Pois bem, há pouco, espantei-me de novo com a minha desaprendizagem.
Enquanto observava o matinal fluxo de automóveis, segurando placidamente uma chávena de café, embalado pelo chinfrim da pardalada nas árvores fronteiras, ouvi um estrondo. Poderia ser um tiro, uma explosão de combustível fora das câmaras em algum veículo mais envelhecido, qualquer coisa dessas.
O meu espanto adveio do silêncio imediato dos pardais.
Pensei que estes pardais urbanos, habituados a toda a sorte de ruídos, se não assustassem com coisa tão trivial.
Afinal, tudo permanece na mesma...
A quem foi ler o outro post, devo dizer que fiz outras experiências com uvas de supermercado e todas criaram bolores. por MCV às 07:43
Que seca
Segundo o Almanaque Borda d'Água, decidiu-se no sábado passado a sorte do tempo em Portugal.
Se o vento soprasse de leste, teríamos seca; se de oeste, chuva e ano farto.
Não me mantive a par dos dados desse dia mas suponho que o vento terá soprado entre os quadrantes norte e leste, na maior parte dos locais. O que não augura boa coisa.
Mas como aparentemente havia dias já decididos, independentemente do augúrio, aqui vai a lista. Chuva, chuva só lá para Março. Mas na próxima segunda-feira, haverá chuviscos. Diz o Borda d'Água:
Nota: Nem copiar sabem, digo, sei. A verdade é que a primeira versão do quadro estava errada. Suponho que o Almanaque adapta as previsões à medida que o tempo corre. Há umas horas atrás, dizia uma coisa. Agora, abri-o de novo e lá estava a informação alterada!!!
A questão não é o aviso. É útil o aviso que vêm aí dias frios. Claro que é.
A questão é o espalhafato. É a repetida vertigem do mais de sempre, do maior de todos, do nunca visto, do não há memória.
Vertigem que já começa a despontar e é claro que se agravará.
Aos que já levam disto uns aninhos, é o sorriso condescendente que suscita.
Aos que andam aqui há menos anos, mais valia que lhes explicassem que estas coisas acontecem. Podem não acontecer todos os invernos, mas acontecem.
Tal como acontecem as secas, as chuvas intensas e os calores excessivos.
Mas o jornalismo é o que é.
Houve de facto um leve, muito leve, estremecimento da cadeira.
Aí pelas seis e um quarto.
Como há muitos outros, causados por coisas mais humanas.
Mas o que achei curioso é que o epicentro tenha sido ali para os lados do Sobral de Monte Agraço.
A única história curiosa com sismos, que não posso aqui contar, mas que contarei no dia em que escreva algumas memórias, passou-se ali. No Sobral.
O sigilo profissional não me permite que o faça.
Nas memórias, se lá chegar, já o tempo decorrido tirará qualquer importância ao que ficar escrito.
P.S. O IM parece ir melhorar a informação sismológica. Para já, mais vale consultar a página do Instituto Geográfico Nacional de Espanha, de onde vem esta imagem.