É-me difícil dizer se já vi a terra tão seca como está agora, em Abril. Tenho sempre muitas dúvidas quando ouço as certezas alheias. O que sei é que já vi secas, várias secas e também já vi anos de chuva mais ou menos abundante. No Alentejo, as barragens que existem há décadas contam pelos dedos de mãos humanas os anos em que atingiram o nível de pleno armazenamento. Já as vi mais baixas. Não nos esqueçamos que a despeito de pouco ter chovido este inverno, o final do verão passado - o mês de Agosto - foi particularmente chuvoso, não provocando a normal evaporação da época. Vejo o meu montado cada vez com mais baixas, isso é um facto. Azinheiras mais, sobreiros um pouco menos, lá vão definhando. Não é coisa nova, infelizmente. Há uns trinta anos ou mais já ouvia o meu pai dar conta disso. Aqui e ali, um viveiro de árvores novas vai dando alguma esperança. Mas a regeneração não tem compensado as perdas. Veremos o que sucede este ano. por MCV às 22:12 de 09 abril 2005
8 de Abril
Não vou ver o teu nome escrito na pedra que os anos escureceram. Estive por aí há menos de um mês acompanhando mais um dos teus bons amigos, de quem te fizeste primo. Neste último ano desmanchámos a velha casa. Mas ainda está no mesmo sítio o cadeirão onde te sentaste para sempre. É das poucas coisas que resta. As tuas árvores continuam a resistir e mais algumas das tuas obras vão passando os cinquenta com ares de moças novas. O teu filho mais novo casou, um pouco mais novo do que tu - não esperou pelos 40. Ainda não tens netos mas talvez para o ano haja mais um do teu nome.
espólio Campos Vilhena - autor desconhecido por MCV às 00:31 de 08 abril 2005
Há já uns bons anos que quase não vejo televisão. Meia dúzia de minutos por dia, um filme ou um evento excepcional quando é caso disso. E é só. Voltei agora a instalar uma placa de TV aqui na maquineta. Fiz hoje as ligações que faltavam. Não sei se é bom sinal. por MCV às 21:04 de 05 abril 2005
Dropping names
Na verdade, a imagem que mais me ocorre não é a do lápis azul, a que de resto só vi os traços em fotografias históricas embora ache que se tratava de um vulgar lápis de côr, é a do padre tocando a campaínha em pleno Cinema Paraíso. 1162 páginas - diz o processador de texto. A vermelho as que passaram para aqui. Não fiz a conta às que foram cortadas. É de há nove anos o primeiro texto. Não me passava então pela cabeça vir a expô-los a escrutínio. Também é certo que, não fora o blogue, muitas das impressões, memórias, observações que me dei ao trabalho de teclar não teriam sido fixadas. Ora desse conjunto de coisas escritas, muitas das que não foram aqui publicadas não o foram porque mencionam nomes. Não se trata de críticas nem de ataques pessoais, sequer de louvores. Trata-se de citações, de evocações, de referências. Que incluem gente viva e morta e gente que nunca existiu, parte de uma confusão entre História e mito que o meu amigo SG fez o favor de me comunicar, com a devida autorização de publicação. Aos vivos e aos mortos não faria sentido mencioná-los a fazer e a dizer coisas que nunca presenciei. A comer pão com manteiga, a guiar em marcha-atrás, a saltar de arranha-céus, a navegar à bolina, a encher pneus. Dos últimos, seria desnecessário dar conta das façanhas e das fraquezas de Xenofonte, o Controverso; Sebâncio, o Forte; Xerxes, o Timorato; Simão, o Foxtrot; Peu, o Assim-Sebento entre outros, pois são por demais conhecidas do público em geral. Ainda assim, um destes dias sentar-me-ei aqui a escolher das fitas, digo, das páginas proibidas, o que me aprouver. por MCV às 20:55
Sou como os demais. Também me irrito com a estupidez. Particularmente com a minha. Essa é a que mais solenemente me irrita. Há neste combate dos homens contra a estupidez uma dose (estúpida) de incoerência. Se a mentalidade hoje instalada é totalmente contrária à discriminação e à catalogação compreende-se mal que a estupidez seja tão catalogada, ridicularizada e discriminada. Mas é. Não se pode atacar outra qualquer deficiência, outra qualquer anormalidade, mas a estupidez, ah essa, é malhar-lhe forte e feio. Como ninguém fez nada por nascer estúpido, míope, com o pé chato, com propensão para a calvície (outra das que merece ainda chacota), parece-me sempre da mais óbvia estupidez (lá estou eu) que se ataquem os estúpidos. Mas é uma espécie de desporto internacional. Estúpido, é claro. O que hoje fiz e me levou a esta irritação é exemplar: A porra da impressora não funcionava. Um documento ficou encalhado, já pronto para impressão, e daí a coisa não saía. Tentei os métodos mais elementares, depois fui dar a volta por trás, nada. Desinstalei a impressora. Depois voltei a instalar, enquanto me indignava com as figurinhas à americana que procuram explicar o que é um cabo, o que é uma porta, etc. Mandava-me verificar as ligações. Arre macho. Quando me resolvi a sair da cadeira, reparei que umas das fichas do cabo de comunicação estava solta. Arre macho duas vezes. Foi mais de uma hora de voltas e voltas. Não há de facto limite para a estupidez. Nem com figurinhas... por MCV às 19:34 de 04 abril 2005
Mééééne, pá!
Em se tratando de gifs animados, lembro-me dos seus precursores estradistas. Aqueles corações que eu nunca via nas cabinas dos camiões, apesar dos insistentes relatos de terceiros e das chamadas de atenção fora de tempo da minha companheira de viagens. Por um qualquer mistério, demorou meses até poder deliciar-me com a visão nocturna das luzinhas vermelhas - sursum corda! Atachado a esse berloque vinha quase sempre um outro, do qual também só tardiamente me dei conta e que era a inevitável identificação do condutor em formato de chapa de matrícula:
Pois digo-vos que tenho aqui um gif animado com o coraçanito. Figurando na esquerda alta da cabina, de quem vê de fora, claro. Mas como ficou com uma brutalidade de bytes, abstenho-me de por ora o colocar aqui. Talvez simplificando a figura se consiga um tamanho mais adequado que não sobrecarregue a página. Também é só mais uma ideia parva que me andava a perseguir, ou este sonho secreto de ser camionista...
roubei a foto do camião aqui e a da bandeira acolá por MCV às 18:38 de 03 abril 2005