Trovão
Não sabendo eu se existe uma base de dados consistente sobre descargas eléctricas atmosféricas e desde quando, só me ocorre dizer que tenho a impressão que a trovoada é um fenómeno que se tornou mais raro com o tempo.
O que se tornou por outro lado menos raro é a má aplicação dos termos relâmpago, raio e trovão que embora se refiram ao mesmo fenómeno têm significados diferentes.
Se ninguém diz “relâmpagos o partam!” não faltam os que distorcem os significados que as diferentes velocidades de propagação conferem a termos como relâmpago e trovão.
imagem do IPMA
por MCV às 23:06 de 05 novembro 2025 
Ainda a memória
Há exactos 54 anos, contados portanto dia por dia, escrevi na minha memória um pequeno texto que só reduzi a escrito muitos e muitos anos depois.
Algures estará guardado. Talvez até gravado em disco duro que a imperícia me impede de encontrar.
Contudo, revejo calmamente as luzes azuis.
por MCV às 22:50 de 04 novembro 2025 
Auxiliares de memória
Há um dia em que nos damos conta de que todos aqueles a quem recorríamos para auxílio de memória, para ajudar a desenterrar factos e pessoas, já cá não estão.
Sobram apenas os desmemoriados ou os pouco velhos.
por MCV às 14:48 de 02 novembro 2025 
Cabeças
Um comentador militar encartado disse na televisão que "
tudo o que havia para evoluir em termos de explosivos, já está".
A primeira vez que me lembro de ter ouvido tal disparate foi nos tempos do liceu, dito por
um colega "iluminado" não propriamente a propósito de explosivos. Era mais generalista.
por MCV às 19:09 de 31 outubro 2025 
Ministra da Saúde
Para salvaguarda, como agora é moda iniciar qualquer peroração, devo dizer que me prende à senhora ministra um quê de simpatia por simpatia. Explicando: não excluo a hipótese de a senhora ministra ter sido integrante de um grupo de estudantes de Farmácia que em tempos alegrou os meus dias e os dos meus amigos.
A memória desses tempos, grata, é também confusa. Pode ter sido ou não, mas por simpatia, simpática assim se me tornou.
Depois deste nariz de cera, noto que a senhora ministra, sobre cujo desempenho não expresso aqui apreciação, é apontada como culpada de alguém ter chegado já sem sinais de vida (segundo a informação corrente) a uma urgência hospitalar.
É deste tipo de situações e do seu arremesso político por gente mentecapta que se faz a política destinada a agradar aos ígnaros.
Vamos no bom caminho! E segue! - como no lema do Grandella.
por MCV às 19:00 
Corrigida a porta da Joana?
por MCV às 13:28 de 29 outubro 2025 
Coisas simples de resolver
Diz que há grande incómodo com duas frases do Chega:
"Isto não é o Bangladesh"
"Os ciganos têm de cumprir a lei".
Caramba é tão simples agradar aos politicamente correctos, basta tirar o "não" de uma sentença e colocá-lo na outra.
por MCV às 14:40 de 28 outubro 2025 
Preso por arames
Passeiam-se em lanchas pelo Tejo e por lá têm estaleiro.
Passeiam-se em lanchas pelo Guadiana e talvez por lá tenham estaleiro.
Passeiam-se em lanchas pelo Minho e talvez por lá tenham estaleiro.
As armas de fogo aparecem amiúde na mão de todo o lixo social.
Ninguém tem medo das consequências. Um país preso por arames, fruto da tolerânciazinha mole dos timoratos.
por MCV às 10:01 
SG
SG veio e trouxe-me isto numa folha de carta das antigas.
Diz que anda a sonhar alto e que ditou o que segue para um gravador.
O Xenófobo
Há quem diga que o meu caso com a Xixa foi semelhante ao do Chico Esteves, uns anos antes. Eu, a bem dizer, acho que não. E achando que não, digo que a grande diferença foi o papel do Isidro.
Ora o Isidro tinha uma filha. E quando a filha se lembrou de casar, foi com o filho do Lopes. Morava ali na outra ponta da vila.
O Isidro ficou muito chateado. Não queria nem por nada que a filha casasse com o filho do Lopes. E a razão era muito simples. Ele preferia cem vezes que a filha casasse com um moço de longe. De uma terra distante. Que ninguém soubesse de que família vinha. Queria que os seus filhos, aliás que os seus netos fossem conhecidos como os netos do Isidro. Os filhos da Isidra. Não suportava a ideia de ter netos que fossem conhecidos como Lopes. Netos do Lopes, filhos do Lopes, os Lopes. Essa ideia era-lhe absolutamente insuportável, ainda que nada tivesse contra os Lopes, pai e filho. O que deixava era de haver menção à sua família, à sua descendência. Passavam a ser de outra família os seus netos. Ao passo que se o rapaz viesse de longe, de um sítio que ninguém conhecesse, ninguém se iria pôr a dizer que eram os netos de alguém que não conhecia, de que nem sabia o nome.
Que o genro viesse pois de uma terra assim distante. E sempre se ia dizer que eram os netos do Isidro. Os Isidros, assim é que estava bem. Era assim que o Isidro queria. E por alguma razão, o Isidro descarregou essa ira. A razão, não sabemos muito bem qual foi, mas suponhamos que tem a ver com o facto de a filha o ter chamado xenófobo a propósito de ele não querer que ela casasse com o filho do Lopes...
Não sabendo ela que estava a aplicar tal palavra quase a dar o sentido exactamente contrário. Ora, talvez por transportar esta xenofobia de sinal contrário é que o Isidro tomou parte activa nos sucessos que vou descrever a seguir. Ora estes sucessos ocorreram uns anos depois do Chico Esteves ter tido o seu caso. Chico Esteves andava metido com uma vizinha, casada, casada como ele Chico, moça de belas pernas, como eu próprio tive ocasião de verificar. E um belo dia, meia dúzia de vizinhas desconfiadas de que algo de vergonhoso se passava no casarão do Chico plantaram-se-lhe ao portão.
Lá dentro estava o Chico deliciando-se com as primícias. Primícias, não. Deliciando-se com as prendas usadas da vizinha. E tinha o carro trancado na garagem. Funcionava a casa mais ou menos como um motel. Entrava com ela escondida dentro do carro, metia-a na garagem e o mesmo fazia à saída. Ora o que sucedeu nesse belo dia em que as vizinhas se lhe puseram à porta foi que ao sair com ela dentro do carro, escondida, pelo meio do ajuntamento, com grande azar uma ponta da saia dela ficou a aparecer entalada na porta, coisa que forçosamente suscitou grande indignação, grande alarido nas curiosas vizinhas.
Deu isto muitas e demoradas conversas no povo, muito diz que disse a toda a gente menos ao Isidro, que vá lá saber-se por que carga d’água sobre o assunto nada disse.
Já, quando anos mais tarde, eu me dedicava a aproveitar a beldade da Xixa num dos meus quartos, naquele mais secundário dos meus quartos, vi irromper pela casa, não sabendo muito bem como, uma turba muito significativa na qual se incluía um indignadíssimo Isidro.
Com ele trazia o carteiro, o leiteiro, o padeiro, o guarda-rios, o guarda-fios e um número indeterminado de mulheres, indignadíssimas, que me entraram pela casa e pelo quarto dentro. Ora a Xixa, mulher expedita, muito senhora da sua dignidade, ao aperceber-se do tumulto, ainda antes de eles entrarem dentro de casa, fez uma bela de uma trouxa comigo, com uns lençóis velhos, umas colchas e umas mantas de papa. E quando eles entraram no quarto, só a viram a ela assim um bocadinho descomposta junto da trouxa. Já não viram aquelas formas maravilhosas, destapadas, que agora só se adivinhavam.
Indignados, gritando, queriam saber onde é que eu estava para me dar um correctivo. Isto na minha casa!
Ora a Xixa trabalhava para mim e dormia lá em casa. Nada disto era assim tão extraordinário. Ela ser encontrada numa cama na minha casa, já que adultos ambos, éramos solteiríssimos. Mas fizeram disto trinta por uma linha e só não foi um escândalo tão grande como tinha sido uns anos antes o do Chico Esteves porque ficaram realmente sem grandes provas, sem evidências que lhes pudessem dar lenha para a fogueira.
Mas um dos piores de todos ao ponto de quase querer destruir a casa era o Isidro. O famoso Isidro que já tinha netos Lopes. Andava aziadíssimo com isso. E talvez fosse esse o caso, porque nos anos do Chico Esteves ainda ele não tinha netos. Ou porque eu e a Xixa éramos ambos da vila, endogamia que o Isidro deplorava por outras razões. Fica assim tudo por esclarecer no que diz respeito ao xenófobo Isidro.
E porque é que estes pequenos casos, que foram poucos e pouco significantes, face aos dias que decorreram entre uma coisa e outra, tiveram tanto espalhafato. É certo que muito mais ruído gerou o caso do Esteves, que durou, durou, durou na história. Muito menos o meu, que se extinguiu com uma vela, uma vez que eles ficaram sem saber muito bem se se tinha passado alguma coisa de pecaminoso. Havia até uma facção que desconfiava que não tinha havido nada. Que jamais eu me deitaria com a Xixa.
Nota acrescentada: talvez o termo
perifobia fosse mais bem aplicado à aversão do Isidro do que aparentemente
neste título.
por MCV às 09:16 