BoatosSem falar nos boatos que têm interesses obscuros e mesquinhos, que desses não cabe aqui menção, há depois aqueles que apenas resultam da má transmissão, da má recepção, da imaginação fértil ou duvidosa do esconfique...
O esconfique é uma nascente abundante de boataria.
Resulta de uma leitura preconceituosa dos sinais. Que pode bem ser inocente. Nada maldosa. Às vezes até com alguma preocupação com terceiros.
Esconfique que vai nascer por aí mais um boato.
As condições estão reunidas. Depois não digam que eu não avisei.
E não. Não põe em causa o bom nome, a reputação de ninguém.
por MCV às 10:13 
GuerraSuponho que esta guerra terá desenvolvimentos mais notórios agora, do que teve após 11 de Março do ano passado.
por MCV às 11:03 de 07 julho 2005 
DefinitivamenteOs bairros com trinta anos têm um cheiro que se assemelha.
Que é diferente do dos bairros com cinquenta.
E dos de que têm quarenta, vinte ou sessenta.
Cada época rescende de sua maneira.
Ou lá tresanda.
por MCV às 16:15 de 06 julho 2005 
La nuit
Não me interpretem mal. O facto é que a moça caiu do céu.
Era daquelas mulheres que não suscitava indiferença. Não era capa de revista. Era apenas portadora daquela terrível volta na ponta que, para os homens, se torna difícil de definir.
Não sei já bem quando a conheci. Creio que terá sido na rua, tropecei nela quando a minha companhia se deteve para a cumprimentar.
Eram então colegas. A conversa foi por aí, teses, aulas, pedras na engrenagem. O mais possível longe da possibilidade de eu dizer o que quer que fosse. O que me deu tempo para lhe apreciar os gestos, a desenvoltura.
Julgo que no encontro seguinte, igualmente fortuito, lhe oferecemos boleia até Lisboa.
Dizem que os taxistas são bons confessores porque se encontram de costas para quem com eles desabafa. Não sei se foi o caso.
Mas ela perguntou-me, lá do banco de trás, se eu já não fazia noitadas.
Explicou-se depois.
Que, durante anos, ela e eu partilhámos a noite. Ela sabendo que a partilhava com alguém. Eu de nada sabendo.
Via da janela dela, em outro ponto da vila, a luz da minha. Imaginava quem seria a pessoa que teimava em atravessar a noite, acompanhando-a. Eu, pela localização da janela dela, não me apercebia da luz. Era num ângulo para o qual nunca olhava.
Aliás, a janela pela qual observava o mundo, era do lado oposto do prédio. Dali distinguia milhares de luzes, aviões pairando, carros a circular, comboios tardios, sem que me fixasse num ponto em especial.
Mas era do outro lado que era observado. Sem disso dar conta. Eu não. A luz que mantinha acesa.
Nunca lhe perguntei como ela ligara o nome à pessoa, digo à luz na janela.
por MCV às 23:33 de 05 julho 2005 