O estabelecimento acrítico de regras é qualquer coisa de fundamental.
Sempre esteve a par com a aceitação de outras mais próximas do bom senso.
O que se nota de diferente, nos dias de hoje, é a visibilidade de mais mundo.
Mais mundo visível, mais espalharei por toda a parte.
Criam-se assim estranhas regras, logo aceites e inquestionadas.
Tomemos dois exemplos:
Os programas de rádio e de televisão em que há participação directa do público via telefone.
Existe uma regra introdutória quase universal, ao nível dos prezados senhores da carta comercial, objecto já de paródia publicitária.
As comunicações dos incêndios, em jeito de ficha. Obrigatório divulgar o número de bombeiros e de meios envolvidos.
Não nos afastámos muito do adeus, até ao meu regresso.
O mundo coado pelas televisões.
Não é preciso muita sabedoria para saber que o que passa na televisão é o que verdadeiramente acontece.
E o que acontece é futebol e folclore político.
No ano passado, a silly season teve esse abrenúncio primordial. O fogo. O fogo e as cinzas, tudo em directo. É natural que à medida que os meios operacionais abandonam os estádios vazios se venham a virar para os matos que ardem.
Assim será.
O fogo é eterno e necessário. Bani-lo é tão quimérico como impedir o avanço das águas.
Dir-se-á que levamos milénios a domesticá-lo.
Mas é uma tarefa sempre incompleta e imprecisa. E precisamos dele. Como precisamos.
Por isso, a enxurrada de argumentos que inevitavelmente se derrama sobre as coisas quando o fogo dá sinais, é normalmente vaga e inconsistente.
A velha questão da culpa e dos culpados.
No ano passado, o argumento final foi o da prevenção. Aliás, este é um argumento que se aplica quase como um emplastro a todos os males.
Eu prefiro a previsão. Talvez seja defeito de mester.
Bem sei que a previsão falha. E falha muito. Mas sem prever, previne-se o quê?
Se houve lição que se tirasse do ano transacto, já aqui o disse no Inverno, foi a de que, ocorrendo durante catorze dias uma vaga de calor parelha à que se registou, vai arder, ah isso vai.
Falem-me em aceiros e eu mostro-lhes as auto-estradas e as linhas de água que o fogo transpôs.
Falem-me em limpeza das matas e eu pergunto até que ponto? Cimentando tudo em volta das árvores? E ainda mostro a propagação copa a copa que as imagens mostraram amiúde.
É claro que não ajuda nada não haver aceiros e haver abundância de combustível nos campos. Não haver acessos também não facilita. Certo. Mas não chega.
A questão é matá-lo à nascença, sempre que possível. Todos sabemos disso.
Todos os que vivem ou viveram no campo sabem disso. Matá-lo à nascença ou impedir que aconteça.
O ermamento a que o país foi sujeito não ajuda.
Não haver gente por perto quando ele se inicia é o primeiro dos factores de risco.
Quanto ao combate, os próprios envolvidos deram razão a quem apontou esta e aquela falha evidente.
Também eu vi colunas de bombeiros à deriva, sem saberem para onde se dirigir.
Mas não nos iludamos, temos hoje muito maior capacidade para o combate ao fogo do que alguma vez no passado.
Do que quando nos reuníamos ao toque das buzinas e, em cima das camionetas, lá íamos bater com rama nas chamas, até que os bombeiros chegassem de longe, de muito longe. E nunca houve por ali um fogo dos tais. E não faltava como não falta combustível. Vade retro.
Organizemo-nos pois.
E tenhamos a consciência de que em determinadas condições, não há outro remédio senão deixar arder.
E que São Pedro não nos brinde com o quadro do ano passado. Por dias a fio.
Duas frases, as de baixo, que figuram na minha galeria de frases grosseiramente inúteis.
Aquelas que não pronunciarei enquanto não perder a noção das coisas, assim o espero.
Não. Não é nada de biográfico. Nada dirigido. Saiu-me!
Um post totalmente machista, nacionalista e mais não sei o quê...
Primeiro, a Grécia deu-lhe uma bofetada. Mas essa sabe-a toda. Sempre teve bons professores.
Depois, o moço recompôs-se.
A Rússia, moça grande e forte, papou-as.
A Espanha, a vizinha do lado, levou um açoite.
A Inglaterra, que costuma passar férias no quintal do moço, fez-se difícil mas não resistiu.
A Holanda, que já teve a mania de se meter com ele, há uns séculos, levou o troco.
Havia outras no baile. A Alemanha, a Itália, a Dinamarca, a Suécia, a Suiça, a Letónia, a Croácia, a França, a Bulgária. Mas foram-se embora sem dançar com o moço.
Agora, há por aí uma que ainda pode sair na rifa.
Vamos ver se o moço baila com elas todas e as manda para casa.
Ele também era o único no baile.
Pinga no pão. Pelo São Pedro, não sei não.
Mas come-se na mesma.
Aqui chegados, não espanta pois que toda a gente puxe a brasa à sua sardinha.
Uns com mais jeitinho, uns outros mais desastradamente, outros com a tal subtileza do boi ou do touro na loja de louças, de porcelanas ou de cristais.
Olhando daqui, é um ver-se-te-avias com o capacho, de um lado e doutro.
Como não há nada de novo nestas andanças, vou cortar os pimentos, dos verdes e dos vermelhos.
Em que país foi feita a bandeira que figurou nas televisões ao lado do Primeiro-Ministro, lá em Istambul?
Que significado transcendente se pode atribuir ao facto de os castelos (... das torres) se terem tornado peões e de os besantes se terem eclipsado?
Uma candidatura forte tem que ter dez estádios novos ou remodelados? Nesse caso, ganha sempre?
Se ainda não ganhámos o torneio, porque é que já querem dar-nos as prebendas?
Porque é que as manifestações são combinadas por SMS e não por telefonemas? Porque sai mais barato? Porque não é preciso argumentar? Porque pode acontecer que o alvo não atenda?
Qual é a definição de espontâneo?
Será verdade que os trabalhadores das áreas de serviço da Galp são uma boa amostra da população portuguesa? - pressupondo que não têm ouvido outra coisa senão "menos ais..."
É nestas alturas que claramente se demonstra que a coerência é um conceito com costas demasiado largas para ter algum valor argumentativo.
Conheço a coerência em sistemas engendrados pelo homem, mas só nos abstractos. E mesmo nesses há brechas por onde ela foge.
Não sei que tipo de coerência se pode exigir ao homem. Talvez a que é própria da sobrevivência e mesmo essa...
Não espanta assim que quem mais clama contra a incoerência alheia seja depois quem mais se contradiz.
E não é a questão do burro, o tal de quem dizem não muda de opinião. Não. É o dizerem-se, a intervalos relativamente curtos, coisas que são contraditórias. Quando não, na mesma frase.
Sempre tive pouca paciência para defensores acérrimos. E sim, também sou incoerente.