O espaço lá foraHá quase dois anos, escrevi
aqui e retomando uma
preocupação antiga, a propósito do então cantado e já naturalmente esquecido Gliese 581c:
Perturba que se repitam os habituais lugares comuns sobre a existência de vida extraterrestre, como se fosse obrigatório que ela exista nos mesmos moldes atómicos, moleculares, celulares da nossa. Não é antropocentrismo. É estupidez pura e dura.
Outra coisa é a visão antropocêntrica da coisa. Biocêntrica, diga-se. Esta saga não tem nada a ver com vida extraterrestre. Tem a ver com a nossa. Tem a ver com a nossa necessidade de passar à frente, de ocupar novos territórios, de forma a garantir a continuidade. A nossa e a de outras espécies. As que pudermos levar na Arca. Sabe-se lá por que instinto, nosso, da própria vida em sentido lato, o fazemos.Por uma daquelas circunstâncias em que o acaso é fértil, desde que delas nos apercebamos, há dois ou três dias recordei o tema em conversa com alguém que se interessa pelos mistérios insondáveis do Universo.
Ontem, apercebi-me de que a NASA consagrou a
Kepler uma missão destinada a descobrir planetas terrestres.
E, mais uma vez, a notícia é dada como a tentativa de descoberta de vida extraterrestre.
Nem Kepler lhes vale na sua miopia.
por MCV às 17:43 de 07 março 2009 
Portugal, 2000
Repetida, sim, esta foto. Da
E.N. 233.
por MCV às 22:15 de 06 março 2009 
Eleições
Não sei qual foi a razão invocada para alterar a data das eleições autárquicas em 2005.
Não me recordo de a ter ouvido e não a descobri agora.
O facto é que estas eleições ocorreram até então sempre – em sete ocasiões - no quinquagésimo domingo do ano, à excepção de 1989 em que ocorreram no quinquagésimo primeiro.
Já as legislativas, descontando as datas simbólicas iniciais em 1975 (Assembleia Constituinte) e 1976 e todas as intercalares e antecipadas, ocorreram quatro vezes no quadragésimo domingo e uma no quadragésimo primeiro – estas as últimas em final de legislatura, no ano de 1999.
Ora as autárquicas em 2005 foram marcadas para o quadragésimo primeiro domingo do ano.
Foi portanto em 2005 que se resolveu aparentemente escolher como domingo eleitoral, para todas as causas, o quadragésimo primeiro. Talvez com opção pelo quadragésimo, consagrado que está por quatro eleições legislativas.
Se este ano se optar por separar as duas datas – coisa que aparentemente sucederá porque a democracia é o regime em que o povo é estúpido às segundas, quartas e sextas e inteligente às terças, quintas e sábados, sendo os domingos uma questão de caracoroísmo, e como tal se teme que este ano a um domingo ele possa ser estúpido e inteligente ao mesmo tempo – fica apenas demonstrado que, qualquer que tivesse sido a razão pela qual se anteciparam as autárquicas de 2005, foi essa uma ideia absurda.
O povo continuará a ser sempre, para quem isso está em questão, ou esperto ou imbecil aos domingos. Às vezes concomitantemente.
por MCV às 15:49 de 04 março 2009 
Os canibais de luxo
Não sei se se tratava ou não do jantar anual do Partido numa versão alargada a umas miúdas com idade para serem nossas filhas.
Os sete contados à porta eram portanto apenas os membros permanentes.
Subimos a escada mal iluminada e entrámos no famosíssimo salão.
Tratava-se mesmo talvez do mais afamado dos restaurantes portugueses. Senão do mais caro.
Olhando em redor, as frugalíssimas e austeras mesas apenas mostravam gente comendo o tradicional frango. Não havia toalhas ou guardanapos. Apenas os pratos sobre a madeira. Sequer copos se viam.
Este frango à casa era uma espécie de frango de borracha, não depenado, dotado de bico e de crista e que se dizia ser uma especialidade indescritível.
Pedimos o supra-sumo da casa.
Não demorando, veio para a mesa. Numa urna de madeira de cerejeira e tampo de pau preto.
Quando abrimos o esquife, ouviu-se uma manifestação ruidosa – ohhhhhhhhhh. Adivinhava-se um cabelo branco, de homem.
Foi então que ele se levantou do decúbito e, tornando o torso, nos encarou. Era um homem de raça indiana, com óculos de massa, sobrancelhas espessas, usando um casaco de malha cinzento claro.
Não percebi a razão pela qual o correrio se desencadeou então.
Nem sequer a razão de alguém comentar que não tínhamos escolhido um restaurante indiano mas sim chinês, o que era obviamente falso.
Depois de sairmos ordeiramente escoltados por um grupo de ajudantes de cozinha, escadas abaixo, demos connosco a trocar presentes em forma de metade-de-meio-litro de vinho verde.
Num largo que semelhava ao de São Pedro, em Sintra.
por MCV às 22:13 de 03 março 2009 
Azul“A razão do azul é essa: uma maior participação, uma maior envolvência” – disse alguém aparentemente encarregado de tratar da encenação do congresso do PS.
A razão hoje em dia, para as massas, é qualquer coisa. Desde que soe bem aos ouvidos dos próprios marqueteiros. Eles próprios parte exemplaríssima dos ignaros.
por MCV às 11:22 de 01 março 2009 