O quarto 327 (I)
Tiago Valente era uma criança de um ano e pouco e estava a recuperar, na cama esquerda do quarto 327, de uma operação a um tumor na zona ocular esquerda.
Havia na cama direita do quarto em epígrafe um indivíduo mal identificado.
A cama frente, quase sempre vazia, pertencia-me.
Havia nos hospitais - há muito que não sei se assim é, felizmente - um traje que permitia cirandar por todos os corredores sem ser interpelado - o pijama. Mais do que a bata e estetoscópio, mais do que a farda colorida de serviçal, mais do que o irrepreensível fato cinzento dos semanas paisanos.
Servia-me pois de um tal para as minhas surtidas.
Recordo-me de seguir, sem intenção, na peugada da moça de cerise (
#DE3163) e calças de ganga. E de a luz se ir extinguindo, à medida que avançávamos em corredores desertos. De repente, houve por bem parar e inverter a marcha. Foi quando ela surgiu também de volta, reabrindo a última porta que transpusera.
Era do bar que andava à procura. E de evitar o quiproquó que, no piso 1, havia junto das escadas.
Recordo-me de ter pensado, como já há tempos me tinha parecido, que a melhor casa de banho era sempre aquela que achávamos mais recôndita. Não faltavam doentes de alas longínquas ali nas casas de banho junto ao 327 enquanto nós, eu e os compinchas, fazíamos longas caminhadas à procura do perfeito lavabo.
Entrei no quarto, olhei para o puto e achei que agora era sempre p'rá frente. Já não havia nada a temer.
Um dos irmãos, já adulto, ajeitava-lhe a roupa e fazia o papel do pai ausente.
Disse-lhe o que pensava como se a minha opinião médica fosse de considerar.
As irmãs abriram muito os grandes olhos e sorriram, enquanto me perguntavam se eu estava mesmo convencido da recuperação da criança.
Para lhes mostrar que sabia do que estava a falar, vesti a fatiota que tinha escondida num armário e deixei com eles, os seis irmãos Valente ali presentes - dois rapazes e quatro raparigas, o hospital no final da hora da visita.
Moravam, é claro, ao fundo da rua. Mais ou menos no sítio onde outrora trocávamos livros já lidos por artefactos índios com que um enviado de alfarrabista nos aliciava.
Aí, explicava eu a quem me perguntava que estes eram os Valente, irmãos do miúdo que está comigo no hospital. Não confundir com o Constantino, que esse já teve alta.
(prossegue)
por MCV às 05:23 
Era espanhol e militar
O último das dezenas de aviões que vi cair
destas janelas. Nenhum deles, porém, se transformou em Jumbo ao levantar.
por MCV às 21:08 de 11 agosto 2006 
Uma coisa que me assustaÉ ter a sensação de que alguns políticos quando falam às massas dizem exactamente aquilo que estão a pensar.
por MCV às 19:18 de 10 agosto 2006 
As sardinhas do Encalho* ou o Édipo clupeidiano
"Eu, se elas 'tivessem bem passadas, ia às quarenta!" [comeu 36 num quarto de hora e terá ganho um concurso] - indivíduo no Festival da Sardinha em Portimão, a 6 de Agosto de 2006. Ouvi na televisão.
Foi esta afirmação peremptória que me lembrou o caso.
Creio que nunca senti aquele tipo de complexo de suplantar o Pai.
Mas o caso é que havia um assunto em que pensava nisso.
Era pois em comer sardinhas, coisa que me vinha à cabeça de cada vez que ouvia o relato da façanha. E era um número a bater que me parecia modesto.
A coisa deu-se de manhãzinha. Com o bater à porta da senhoria balnear.
O alguidar cheio das ditas (pequenotas, logo boas para fritar, segundo ela) suscitou logo capeia (em boa verdade o que suscitou o sururu foi a palavra fritar, já que ela assim que fechou a porta, ainda mal agradecendo a oferta, já desferia na minha cara - mas afinal ela pensará que eu estou de férias ou sou cozinheira?).
Na minha então habitual tentativa de apaziguamento, socorri-me de imediato de um amigo dela. Chama-se o homem (que morava perto) e pronto, disse-lhe eu. Entre os três havemos de dar conta desses dez quarteirões, não achas? Afinal elas são pequenas mas deixam-se assar.
Foi assim que a dobrei.
Até comprei um garrafão de vinho para a coisa parecer mesmo a sério, assim oficial. E à hora aprazada lá fomos buscar o moço à estação de Cacela.
Ele, como bom cientista algarvio, não se deixou impressionar pelo conteúdo do alguidar. Era também da opinião que sim, que as domávamos. O único senão era o facto de o grelhador ser eléctrico, coisa em que tive que ceder, por causa já não sei de quê.
Engrenámos com a Ria Formosa aos nossos pés.
Por ser já escuro de Julho, coisa das dez e tal da noite, não nos apercebemos bem da cresta que inflingimos ao pescado. Foi às apalpadelas que um disse Não há mais.
Complexo arquivado. Pelas contas que se deixaram fazer, pelo menos 70 tinha derrubado. Se eram uns dez quarteirões...
A moda de fundo, unplugged, era uma imitação de Nuno da Câmara Pereira cantando, ao volante, a Isabel Santa Senhora, Raínha Santa Isabel.
* Este Encalho é o que fica ali entre São Teotónio e a Zambujeira.
por MCV às 23:58 de 07 agosto 2006 
Adeus ó rebêra do Vascão
Nã fui ô
Vascão. Nã m' astrevi. Era munta calma.
Mas a mana ficô beim na fotografia.
imagem da RTP
por MCV às 23:40 de 06 agosto 2006 
Na maquete, mas só nos acessosTodos os vrrrrruuuuuuuns na tremedeira dos lábios, todas as inclinações de cabeça no descrever das curvas ao volante de dois dedos.
foto in "A ponte Salazar", GPST, Lx, Julho de 1966E já lá vão 40 anos.
por MCV às 00:19 