Aqui há dias as cadeias internacionais de televisão davam conta de uma estranha criatura encontrada nos mares do Japão, nomeando-a de fóssil vivo. Uma expressão que surge de vez em quando. Confesso que no imediato as imagens me pareceram inventadas. Tal como me pareceu montagem a fotoganhista de anteontem. O que só dá conta que o meu lado desconfiado de bom alentejano prepondera. Mas passando à frente, a parábola está na designação: fóssil vivo. Uma criatura que teria provindo das profundezas do tempo num estalar de dedos, foi mais ou menos o que se ouviu então. Denota esta parábola a imagem cega que têm as massas, plasmadas nestes canais de informação, do mundo e do tempo que as envolve. Não existe tal coisa - um fóssil vivo. Se está vivo e nos é contemporâneo, é uma forma de vida tão moderna como a nossa. Uma evidência lapalissiana. Se o seu aspecto nos é estranho e se confunde com as fantasias que temos das criaturas de muito remotas épocas, misturar uma coisa com a outra já é um sinal dos tempos. O fóssil vivo, a existir, é a pedra que julga que pensa. E tantas elas são. por MCV às 14:03 de 10 fevereiro 2007
A mão à palmatória
Ora aí está, como o algodão não engana. Apesar do acerto - que era quase uma certeza - na exclusão da famigerada 5ª coluna.
Um prejuízo aí duns 3100 euros, caso tivesse sido a sério. por MCV às 12:23
A gripe
Há algum estudo sobre a razão pela qual as pessoas recorrem ao médico, e neste caso às urgências e afins, quando têm sintomas de uma vulgar gripe? por MCV às 13:12 de 09 fevereiro 2007
Nós, os crentes
Àqueles que acompanham há mais tempo este blogue não é estranha a minha propensão para adentrar os segredos da estatística dos sorteios da Santa Casa. Ora isso sou eu e mais uns quantos crentes. Há mais de vinte anos dura ela, desde que um dia um amigo me lançou um desafio para que o ajudasse com um sistema para o totobola. Como já disse aqui uma outra vez, nada ganhei com ela a não ser o conhecimento do meu próprio conhecimento e a capacidade de o complicar, passo a passo. Formas de apurar a sistematização de problemas. Raciocínio puro, sem espinhas. A mim, que sempre fui um homem de condições ideais, isto agrada-me sobremaneira, ao mesmo tempo que acentua a minha legendária misantropia. O paradoxo aqui, a existir, é que se trata de uma razão dentro da fé. Uma razão estribada em subconjuntos da realidade - não será toda a razão assim? - contrariando o todo, sendo muito provável que se trate de um subconjunto vazio. E uma fé, uma crença de que se conseguem resultados, não acertos milagrosos mas sequências lucrativas, se...
O meu fornecedor habitual de jogos de azar lançou-me um repto há uns tempos, depois de me saber iniciado na teoria dos números - adaptar o algoritmo que concebi para o 6/49 ao 5/50. Disse-lhe que o faria tão logo tivesse resolvido um problema que me atormentava aqui na maquineta e que era impeditivo. Pois bem, recuperada a máquina o problema foi-se, sem mais. Estou agora de volta da coisa. A debater-me com um problema conhecido - o de interpretar o meu próprio raciocínio em linhas de código. E a chegar à conclusão de que mais vale começar de novo, com uma estrutura idêntica, do que tentar adaptar o existente. E a deixar-me envolver de novo na crença de que é possível iludir a esperança matemática. por MCV às 19:02 de 08 fevereiro 2007
O discurso hiperbólico
Atento ao que se diz aqui e ali, tenho construído nos últimos anos um catálogo de classes que se distinguem por serem praticantes zelosas do discurso vazio e hiperbólico. À cabeça, estão os críticos de vinhos. Em seguida, os marqueteiros de toda a sorte. Logo após, os encenadores e artistas plásticos. Pouco distanciados, os arquitectos. Sem se deixar atrasar, os analistas económicos. Peço desculpa se me esqueci de alguma classe que mereça destaque tal. Adenda ainda a tempo: Incluem-se as seguintes classes, por sugestão da T. - políticos; psicólogos; sociólogos; novos ditadores de moda; novos VIPS portugueses. por MCV às 03:00
Deve ser mesmo um buffer isto que vejo funcionar na minha cabeça. Não encontrei no meu vocabulário uma palavra que expressasse melhor esta ideia. E digo-o, não dando conta de uma trivialidade qualquer, em que se tratasse apenas de estar a armazenar mais informação do que posso processar. Será isso possivel? Não. É algo mais intenso. Atravesso ou julgo que atravesso uma daquelas fases em que a informação jorra em catadupas atiçando as sinapses. E ao acumular-se, à espera de atendimento ao balcão, vai se relacionando com a que já chegou e com a que virá a seguir. Tudo isto num caldo tal de coincidências que coloca na mais improvável vizinhança dois posts que ando a cozinhar com ingredientes totalmente diferentes. Tivesse eu a janta pronta e não cairia da cadeira antes das graças. por MCV às 18:01 de 06 fevereiro 2007
Não que não existisse já antes de terem dado com o alimal. Tal como eu. Que já vinha embuçado há uns quantos milhões de anos. O certo é que deram connosco no mesmo ano, como consta da papelada. 1959. Há esta ligação de coetaneidade. Quase sanguínea. Não acredito que, sendo portanto da minha criação, ele seja tão mau como o Pintam. Esse, sim, o Pintam é que é muita perigoso.
Agora a sério: continua a parecer-me pouco provável que uma epidemia mundialmente catastrófica venha com arautos à frente. por MCV às 03:30 de 04 fevereiro 2007