Muitos ases de espadas num só baralhoSerá que executam os duplos de Saddam Hussein junto com ele, à cautela?
actualização: Afinal, parece que não. Foi
um só ás. Ainda discorrerei sobre a cópia de disparates que se escreveram e disseram à volta dos famigerados sósias.
por MCV às 17:09 de 29 dezembro 2006 
O funcionário (in)competenteO funcionário competente tem uma carta à frente. É nela ainda que identifica os prédios e anota o número dos respectivos processos.
Mostrou-me o meu. Nada. Nenhuma nota.
Não temos cá nada. O processo está no Arquivo Histórico.
Vindo do Arquivo Histórico, já com o processo identificado e copiado, lá fui dar o meu contributo para a desarticulada base de dados.
Quando disse que ia dar um contributo, o funcionário incompetente respondeu-me que ali não se aceitava tal.
Quando lhe expliquei que sabia que o colega competente anotava numa carta sobre os prédios os números dos processos e que o que tinha na mão era uma cópia do rosto de um processo, com a respectiva cota lem legível, respondeu-me que aquele número não podia ser de um processo.
Voltei a dizer-lhe que era a cota sob a qual se encontrava tombado no Arquivo Histórico, que era quanto bastava para que um terceiro que a seguir viesse o encontrasse de imediato.
Diz que não, que não podia ser o número do processo.
Paulo de tal e tal - gritou-me lá de dentro, depois de aparentemente ter ido consultar alguém ou qualquer coisa.
Disse-lhe que se o nome que me gritava era de um processo que tinham ali com um número igual, tal nome não tinha, à primeira vista, relação alguma com o processo que eu tinha na mão.
Voltou a dizer-me que aquilo não podia ser número de processo.
Apareceu então o funcionário competente.
Olhou para a cópia que eu lhe estendia e disse:
Ah, obrigado. Mas eu duvido que dessa zona ainda seja preciso anotar esses números.
Já não temos pedidos de licenças daí.
por MCV às 20:53 de 28 dezembro 2006 
O sismo de RabateNão será fácil esclarecer as circunstâncias em que me afastei tanto do tradicional caminho para casa.
Procurei por saídas em quase todo o lado onde entrei. Saídas de beco em beco, de rua em rua, tudo nas redondezas da minha casa.
Retenho apenas desse percalço três ou quatro notas.
Os agressores arbitrários que se encontravam num campo patrocinado pelo jornal "A Bola" e inaugurado em 25 de Maio de 1941.
O chinês que me queria vender uma craveira com canivete suiço, marcada a 2,30 euros por 200 ou mesmo 180 com o ar mais seráfico deste mundo e que me ainda me perguntou se eu não ia comprar nada quando me viu porta fora.
A dificuldade em sair do restaurante dos grelhados sem passar por baixo das competentes grelhas que, assando à brasa áerea, pingavam gordura fervente sobre quem se atrevesse. Depois uma simpática almoçante lembrou-me o que eu estava farto de saber. Os clientes não conseguiam sair por ali. Já os empregados tinham um sistema de passadeira levadiça que suplantava os grelhados, quando accionada.
A última e decisiva nota que me atirou para o iate de alguém, foi naquele salão de chá também achinesado em que entrei por uma estreita passagem e onde depois, mais uma vez, tentei achar uma saída e nada. Nem sequer conseguir voltar para trás já conseguia, não fosse a prima C. indicar-me o caminho, afinal aquela espécie de louceiro envidraçado e baixo.
Lá voltei não sem ter tropeçado num grupo de cromos que contemplava as pernas das balzaquianas. Ainda me detive numa ou noutra assinalada e quase parecia que um etéreo xis lhes era aplicado nas nádegas pelos ditos. Mas reparei que os seus rostos tinham perdido o viço.
Voltei a casa. Sabido que é que ficava na Praça do Pão. A praça era toda constituída pelas construções baixas de um infantário-colégio e a ocidente por um edifício mais alto onde se ouvia sempre a voz feminina que falava ao telefone.
A minha casa era um enclave. Não tinha vista para o rio, como a praça. Mas eram
umas boas instalações, no dizer de PoliBruno.
Alguém me perguntou se eu não tinha saudades das reuniões de condóminos no prédio de sete andares. Disse que sim.
Depois disto tudo, já estava no iate da outra.
A volta era para ser curta, chegar antes da noite. Mas eu notei que ainda assim era melhor trazer uma roupa mais quente. Que isto de ir para o mar...
Claro que se alongou. Fez-se noite e frio. A prima C. num ataque de coragem inaudito lançou-se às escuras águas do golfo de Cádis para recuperar qualquer objecto perdido.
Talvez um gato. Talvez o gato transformista que adquiria forma a partir do nada. Talvez um dos dois gatos pretos protegidos - gata e cria - que se instalavam por detrás das quartas de água.
Mas o caso é que se lançou e trouxe uma espécie de marroquinaria na mão.
Deram-lhe roupa seca e tudo.
Pouco depois, teve lugar a cena dos candeeiros. Um amigo da dona do barco mantinha uma espécie de sala repleta de candeeiros e só de candeeiros. Não era uma mostra, era mais uma espécie de loja sem objectivo de venda.
Ali levados, ele começou a dar com um maço de madeira nuns candeeiros que semelhavam o boneco Michelin, uma espécie de elipsóides sobrepostos.
Quis com isso, suponho, dar uma ideia da robustez das suas criações.
E, posto que éramos chegados a Maiorca, passámos à sala de refeições onde, enquanto nos batíamos com as mais requintadas iguarias, me pareceu que o barco tremia sob qualquer efeito anormal.
Comentei com o meu parceiro de mesa que, se fosse em terra, diria que era um tremor da dita. Mas sendo no mar, estranho seria que a água se animasse da mesma forma. O certo é que, pouco depois dessa agitação, já se avistavam ondas mais altas e espumantes nada de acordo com o mar de minutos antes.
Era então um sismo, dizia eu, secundado por um partido.
No outro lado da sala, as opiniões eram contrárias. Os sismos não se sentiam assim no mar. Caso as águas se agitassem, seriam ondas com período muito maior e não as que corresponderiam à minha descrição.
A discussão pegou-se e morreu.
Passámos à parte do jogo.
Fomos para os aposentos do médico que, descuidadamente, tinha deixado sobre o pano verde da camilha uma embalagem amarela e preta de uma pomada cuja indicação, em letras gordas, eram as fístulas.
Aqui, o parceiro que liderava o partido anti-sísmico exorbitou. Começou a disparar na minha direcção com tal violência verbal que a coisa quase descambou.
Mas lá jogámos.
Quando voltámos à sala de jantar, alguém tinha aberto o móvel da televisão. Estava ligada num canal que dava cotações.
Em rodapé li sobre um sismo de grau 3,3 em Rabate. Já não me calei nessa noite.
por MCV às 23:45 de 25 dezembro 2006 