Há lições que se menosprezam. Muito antes de ter ouvido, na madrugada da rádio, o reformado do caminho-de-ferro que gabava o local onde teria lugar, uns dias depois, o convívio de ouvintes. Muito antes de o ouvir descrever as peripécias da viagem exploratória, que fizera com o habitual desconto para ferroviários, na mira de saber se o local era adequado para aí se deslocar mais a esposa. Muito antes de ter percebido o contentamento que exalava pelo facto de lá ter estado antes dos outros. Muito antes disso tudo, já eu sabia que certas visitas exploratórias valem o tempo que nelas se investe. Mas sabendo-o, também o ignorei dessa vez. Estava tudo tratado. Não, a gente não volta nessa noite. São muitos copos, estradas perigosas, depois também não há táxis. Não, a gente não volta. E se fôr para vir de comboio, já se sabe que só de manhã. Então o melhor é falar com o Fernando. Talvez ele nos desenrasque. E o Fernando desenrascou, claro. Posta de parte a ideia da sala de condóminos do prédio onde ele morava - ouve-se tudo, as paredes da cave fazem de caixa de ressonância, não pode ser - lembrou-se de nos dar a chave do andar-modelo do último prédio em acabamentos. A verdade é que a distância da festa ao belíssimo prédio de apartamentos era aí de uns três quilómetros. Uns eram propulsionados, outros traccionados. Mas ainda assim a viagem lá se fez em boa ordem. O chiu à porta do prédio dado por mim em voz alta(!) era mais um sinal de respeito para com o Fernando do que para com a vizinhança. Não morava ninguém naqueles prédios, só sacos de gesso, latas de tinta, azulejos às caixas, vassouras, vêdês, rolos de cabo eléctrico. Talvez o álcool já se tivesse evaporado com o percurso, talvez o dia não tardasse muito a nascer, o certo é que dormir, ninguém dormiu. Meia horita depois, lá iam eles por cima da ponte de Santo Amaro, à procura do cavalo de ferro. Ninguém se queixou. Mas, na cara de alguns, via-se o peso do embuste. Estavam convencidos de que o andar-modelo estava mobilado e pronto a habitar. por MCV às 00:50
Imagens do passado
Acho que já se percebeu pelo atrás exposto que não sou de me fotografar nem à família. Não sou de me filmar nem à família. E talvez por isso sou dos que menos suportam aquelas sessões com as fotos / slides / filmes das férias e das crianças, tão giras! Passando-me para as mãos uma máquina de filmar, em plena praia, sai isto:
Um amigo mandou-mo hoje. Um fragmento de um filme estival. Feito talvez em 91. Numa tarde de Julho e de Manta Rota. E, se ele lesse este post, era capaz de me chamar mentiroso. por MCV às 19:25 de 16 março 2007
A 3ª da ordem
A palavra que mais vezes aparece ao longo das nossas estradas nacionais é Concelho. A segunda em número de vezes é Distrito. Alguém sabe qual é a terceira, excluindo preposições e artigos? por MCV às 02:49
Um tiro de resposta a dez meses de vista! por MCV às 05:23
Repito-me
Repito-me. Repito-me, dizendo para mim próprio que ninguém tem culpa de ser estúpido. Nasce-se assim. Como se nasce de olhos azuis, cabelo ralo, pé chato, surdo-mudo, com dois sexos. Algumas destas características são ditas normais, porque a quantidade de indivíduos que as possui é tal que assim se tornam. Outras não. Talvez que a estupidez seja afinal normal. Hoje, isto sai-me por causa do caso do dia, destes dias. Da criança que volta à família, depois do rapto. Perpassa uma estupidez profunda nas declarações que se ouviram da PJ e dos responsáveis do hospital, quase como se a eles se devesse o sucesso. Quando não foram capazes uns de impedir que acontecesse, outros de resolver o caso. Perpassa uma estupidez profunda nas declarações de quem opina sobre as consequências da devolução e a sua valorização. Como se alguém soubesse alguma coisa do assunto. É claro que no meio disto tudo, há sempre umas vozes cautelosas e avisadas. Poucas, muito poucas, como sempre. A estupidez é, pois, normal. por MCV às 18:55 de 14 março 2007
A Academia de Belas-Artes selon je-ne-sais-qui (actualização)
Ora aqui está mais um post. Em relação a este post e depois desta resposta:
"Realmente tenho a "sua " foto no meu blogue, coloqueia por se enquadrar no que pretendia publicar no meu blogue e desde já vou retificar o dito post metendo -o uma referencia ao seu blogue como "sua". Como muitos sou apologiasta do "free" e sem "dono" mas com alguma justiça também sou apologista do que é do dono ao seu dono. As minhas desculpas e com um abraço me despeço. paulo"
A mim: Um cone de geratriz inclinada a 1º face ao eixo, eixo esse passante pelo centro da Terra e pelo centro do círculo que é definido pelo corte das paredes do Poço da Lebre, ao nível freático. E vértice no centro do círculo. No dia 6 de Agosto de 2041, às 15:28:13 TMG. Amen. por MCV às 00:28
A Academia de Belas-Artes* selon je-ne-sais-qui
Um dos amigos que aqui fiz, por mor desta página, encontrou em tempos num blogue cujo nome ou endereço não interessa aqui divulgar uma das fotos que aqui publiquei sem indicação de autoria. Todas as que figuraram até essa data sem qualquer indicação eram, naturalmente, da minha lavra. Desse dia em diante, passei a acrescentar-lhes uma marca d'água. É claro que sei que isso apesar do rasto que deixa não impede que as mesmas sejam utilizadas por outrem, sem indicação de origem, de autoria. É uma velha guerra que aqui se combate, com episódios reveladores. Há os que dizem que tudo o que aqui deixamos passa a ser do domínio público e nada a fazer e há os que se indignam de cada vez que há plágios, utilizações indevidas, etc., etc.. Eu sou dos que considera que tudo o que aqui colocamos quando não é do autor, deve ter a origem ou a autoria evidenciada. Neste caso, não houve da parte do autor do dito blogue a intenção de se apropriar do trabalho alheio. E digo que não porque juntamente com a minha foto havia muitas outras de outros fotógrafos, de outras épocas, pelo que imediatamente se percebia que não eram captadas por ele. Não é disso que se trata. É antes de publicar inúmeras fotos sem a menor indicação de onde as obteve, de quem as fez. Essa foto, antes ou depois disso, passou a circular nessas correntes de mails, integrada num .pps, com uma legenda errada. Em vez do ano de 1981, em que foi batida, ostenta a data de 1964. A estupidez é amiga da ignorância, sendo que ninguém tem culpa de o ser - é verdade, e um olhar atento aos carros estacionados e a procura, no local certo, do ano em que começaram a ser fabricados despistaria claramente o ano de 64. Sabe-se lá onde o foram buscar.
A foto é esta:
É minha e foi feita em Dezembro de 1981 no tempo em que frequentava o então Largo da Biblioteca Pública, vulgo Largo da Escola. Hoje, Largo da Academia Nacional de Belas-Artes.
Recebi-a hoje de um amigo por mail. Acho que ele não acreditou quando, indignadamente, lhe disse que a foto era minha. Seria caso para me orgulhar? *a designação da foto dada pelo anónimo é AcademiaBelasArtes1964-Lisboa.jpg por MCV às 21:31 de 13 março 2007