O psicólogo em que entroncava o SérgioNão sei se as habituais escadas rolantes impraticáveis de íngremes e em poço estreitíssimo se os habituais elevadores acanhados se as habituais escadarias apertadas foram antes ou depois de encontrar o homem que se queixava ao psicólogo.
Era ali aos meus olhos o deslumbramento de ver com eles um apoio psicológico. Um verdadeiro apoio psicológico. Eu era o elemento neutro, um protonarrador consentido, invisível, inaudível e inodoro.
O homem que eu não conhecendo, conhecia, era afinal amigo do Sérgio. Quando depois me falou nele, de imediato lhe dei conta das aventuras que havíamos partilhado, vai para trinta anos. E que nunca mais o vira.
Foi esse o repto que não fiz mas que ele levou a peito.
Em menos de nada, o Sérgio ali estava.
Depois, lá fomos para um entroncamento na Marginal e, pela noitinha, cumprimentávamos como se velhos amigos fossem, perfeitos desconhecidos. A inversa também era verdadeira – se bem que a reciprocidade aqui seja quase (mas só quase) óbvia, o facto é que havia uma grande diferença, consoante a iniciativa fosse nossa ou dos (des)conhecidos que passavam.
por MCV às 21:54 de 15 março 2008 
CartazEu sei que este é um cliché mais do que batido.
E eu próprio sou um dos que duvida que o turismo seja a "indústria" que falece ao País.
Ainda assim, olhada a fotografia, resolvir armar-me em mercador de nadas.
por MCV às 10:53 de 14 março 2008 
O humor parelhoJá não sei há quantos anos foi que, entre músicas na
taverna do Fernando*, ela me devolveu, com selo de concordância, uma sentença que eu lhe segredara talvez vinte anos antes:
“Aquilo que me disseste certa vez sobre ser decisivo que os sentidos de humor sejam parelhos...”
Pois bem. A isso, e sem que ela me leia – a probabilidade é desprezável – ajunto agora uma outra coisa decisiva. Algo que então não me preocupava, não tinha em conta, mas que agora tenho – a classe. Uma mulher sem classe é insuportável.
Se ela me lesse agora, decerto concordaria não em género mas em caso.
* com publicidade e tudo, que o sítio merece e o Fernando também.
por MCV às 02:43 
ÍndicesOutro índice que dá a inversa da qualidade intelectual de uma franja é a frequência com que os seus elementos descobrem a existência da pólvora e o fazem com palavras inglesas.
por MCV às 08:20 de 12 março 2008 
FilosofiasVi e ouvi agora mesmo dois tipos diferentes.
Um, que eu preconceituosamente posso dizer que era um homem do povo, transmontano – e eu, alentejano, gosto muito de Trás-os-Montes e das suas gentes – respondeu assim a quem lhe perguntou se não pedia o reembolso da despesa (ou parte dela) que fizera com o transporte até ao ponto do serviço nacional de saúde onde foi atendido: Não. O Estado já tem muita despesa.
Outro, que eu preconceituosamente reputo de técnico – e os técnicos para mim são como toda a gente, de uns gosto, de outros não – dizia, com um ar que eu preconceituosamente reputo de maravilhado, que se pode hoje em dia ter num elevador um algoritmo simples que calcula uma moda, moda essa que se refere por exemplo ao género musical preferido dos elevandos, desde que estes tenham o dispositivo que o elevador reconhece e, é claro, autorizem o escrutínio das suas frequências musicais.
Talvez por gostar muito de Trás-os-Montes e das suas gentes...
por MCV às 13:49 de 11 março 2008 
Cem mil e umDando cumprimento a
uma frase promissória que escrevi.
No tempo em que estas coisas mais importavam, nos anos setenta, havia uma forma expedita de contar os manifestantes na rua – era o velhíssimo método do olhómetro que se traduzia quase sempre por dar o resultado de cem mil e um e suas variações. Um à frente e para aí cem mil atrás, como no dito popular.
Bem vistas as coisas, ainda que as técnicas de hoje possam ser diversas, o olhómetro é ainda o instrumento utilizado.
Depois cada um tem o seu – dá a coisa, para a manifestação de sábado, desvios de 20% ou de 25% consoante se tome como base os 100 000 ditos da Fenprof ou os 80 000 ditos da Polícia*. Nunca se sabe que mecanismos de contagem e estimativa são utilizados para lá chegar.
Sabendo que só a estultícia e a baboseira levam a que se produzam certezas em matéria tal, detive-me a fazer algumas contas que deixo à vossa consideração:
Observei as imagens dos três canais de televisão.
Há uma sequência de imagens de helicóptero na SIC que dá uma panorâmica do percurso da manifestação em alguns segundos, a que se pode chamar instantânea. Segui-a a partir dos Restauradores.
Dessa sequência retive a porção dos arruamentos a jusante que a manifestação ocupava nesse instante e uma ideia aproximada das densidades em marcha e em parada, obtida por contagem em alguns casos e por estimativa noutros.
Vi também imagens da Avenida da Liberdade e do Marquês, reportadas a outro momento.
Assim, pondo de parte apenas as artérias adjacentes ao Marquês de Pombal, onde se concentraram os manifestantes, usei a seguinte tabela em que as densidades estimadas majoram o observado:

Se partirmos do princípio (incerto) que, à hora da sequência de imagens da SIC, onde já havia, pelo máximo, 35 000 pessoas no Terreiro do Paço, todo o trajecto da manifestação ainda estava com uma densidade de 0,7 pessoas por m² (majoração do que se viu nas imagens) e do princípio (incerto) que não variou consideravelmente ao longo do tempo a percentagem de ocupação das vias pela manifestação, então o número a que chegamos é, arredondando ao milheiro, 62 000 pessoas.
A diferença entre esta estimativa e os números “oficiais” pode estar ou não em pessoas ainda nas imediações do Marquês de Pombal (Fontes Pereira de Melo) ou em ruas não incluídas no trajecto e que acabaram por acorrer ao Terreiro do Paço ou até naquelas que já teriam abandonado o local.
É claro que o número de autocarros e a sua lotação dão, depois de multiplicados, um minorante para o intervalo em que este número cai.
Este cálculo não é afirmativo. Dá apenas uma ideia de aonde pude chegar, com os dados de que todos dispúnhamos, sem intrincadas elaborações e com erro grosseiro.
É o meu olhómetro, afinal. Nada mais do que isso.
*Não li jornais sobre o assunto. Não sei se estes números foram corrigidos.
por MCV às 03:37 
IrritaçõesUma coisa que me irrita supinamente nos blogues é a música obrigatória.
Quase sempre aos berros.
Para quem, como eu, gosta de navegar à noite, ouvindo baixo e em fundo algum canal de televisão, é um sobressalto ter que desligar as colunas numa correria, quando estas coisas começam a berrar, porque é claro é mais rápido fazê-lo do que ir à procura do local onde se pode terminar o ruído.
Cada um sabe de si e do que quer propor aos outros.
A mim irrita-me a sério.
por MCV às 05:36 