Sobre um ninho de cucosDe decisões preliminares está o inferno, digo o espaço aéreo, cheio.
Ainda assim, fica este governo, por ora, conhecido por ter
decidido tomar uma decisão ("decidiu tomar uma decisão" - sic) que soa acertada. Parabéns!
Sendo uma ocasião rara, saúdo-a.
Como já
aqui tinha dito, no auge da polémica – 5 dias depois do deserto – em toda a minha infância ouvi falar da ponte do Montijo (Beato – Montijo) e do aeroporto em Rio Frio.
A ponte está lá desde 98. Com o encontro noroeste mais a montante, em Sacavém.
Se o aeroporto fôr enfim construído onde agora se diz, não ficará longe de Rio Frio. Uma insignificância, comparando a distância com a dimensão da empresa.
Esta decisão preliminar não dá nenhuma certeza. Este processo já semelha o da decisão da primeira ponte sobre o Tejo em Lisboa e o do metro do Porto, que se arrastaram por décadas. Isto num país em que há
um templo que demorou quase três séculos a ser concluído.
Mas diz-me que, em tese, quem assim me mostrava o que o futuro traria, não me enganou. A quarenta e tais anos de vista havia muita gente que já tinha percebido isto mesmo.
(clique para aceder ao relatório)
corrigido e acrescentado a 11 JAN. pelas 0:05
por MCV às 21:12 de 10 janeiro 2008 
O homem duplicado(ou o tradicional post das 3:05)
Quando peguei no livro de Saramago, não tinha a menor ideia do que lá estava escrito. Coisa que, creio, não me tinha acontecido com os outros livros que lera dele.
Foi assim intensamente que logo ao início recordei a
exacta experiência que ele lá descreve.
E é uma experiência vertiginosa. Actua seguramente sobre o cérebro duma forma semelhante à visão abrupta do abismo.
Experimenta-se a incapacidade de ordenar o universo. Ou de o contemplar com a ordem conhecida.
Ainda hoje não sei quem é o tipo da foto.
Suspeito que se chama António, que lhe chamavam Tóninho, que já morou em Sintra, que tinha há 30 anos uma namorada muito vistosa e que gostava de ralis.
Tudo isto sei-o, dito por umas quantas pessoas que não conhecia até se me dirigirem, tomando-me por ele. Se não sei mais, por via delas, vejo-o agora, foi porque o interesse que então me suscitava era escasso, para surpresa dos próprios interlocutores.
Parece que se acentuou, com a idade. O interesse.
por MCV às 03:05 
Que alívio!Afinal o meu País não é desgovernado por um conjunto de incapazes.
Tenho agora a certeza de que esses desgovernam um outro país em que tudo corre pelo melhor e não o meu.
Fiquei aliviado.
por MCV às 20:03 de 07 janeiro 2008 
Os cigarros alheios é que fazem muito malA primeira vez que me apareceu um simples no écran alegando que nada poderia ter feito para evitar o desastre, porque já estava tudo parado, data do tempo em que as televisões começaram a dar importância aos directos de acidentes de trânsito. Há mais de uma década.
Esse simples era motorista profissional, presume-se, dado que conduzia um pesado de passageiros e matou nessa ocasião duas pessoas por não ter conseguido parar, numa auto-estrada, sem embater numa fila de carros parados.
Suponho que ainda conduza, nada o impede de. Se assim fôr e dado que ainda é impossível embutir discernimento em cabeças como a dele, há algumas probabilidades de que volte a matar, se as circunstâncias o proporcionarem.
Nestes últimos dias, já por duas vezes mais desde
o post de 30 de Dezembro, que assisto a outros simples, com o ar mais natural deste mundo, a atribuírem a responsabilidade dos seus embates aos que já estão enfeixados, às más condições do piso, ao nevoeiro e à falta de atrito que o gelo origina.
Não vão perceber que a responsabilidade é deles até a companhia de seguros os acordar. O discernimento ou a ausência dele, não lhes permite tal. Por isso são tão espontâneos face às câmaras.
As autoridades sabem que a maior parte dos acidentes não se deve ao álcool – apenas 4,3% dos condutores testados por envolvimento em acidente apresentaram em 2006 taxas de álcool superiores ao limite legal (cf.
relatório da antiga DGV – pág. 108, quadro 5).
Devem ter uma ideia de que, para além da tão apregoada falta de civismo, que existe claro e lhe está associada, é a falta de discernimento e a incapacidade de manobrar um automóvel que estão na base dos excessos de velocidade (dentro ou fora dos limites estabelecidos), das manobras arriscadas, do descontrolo da máquina. O mesmo relatório (pág. 64) atribui como causas que vitimaram 27% dos condutores, a velocidade excessiva e as manobras irregulares - o grosso das causas identificadas. 62% das vítimas ao volante ainda resulta de acidentes com causas desconhecidas.
Sobre isto, basta ter uma ideia de quem faz os autos dos acidentes para se saber o valor que esta informação tem, mas é a que existe.
Face a isso, a grande medida, para além de uma apregoado agravamento das penas de inibição, é a antecipação da revisão dos condutores vulgares dos 65 para os 50 anos.
Nada contra estas medidas em particular. Aliás, o adiamento dos 40 para os 65 foi mais uma das medidas que alguém tomou há umas décadas atrás, que só se justifica por puro facilitismo ou por reconhecimento da ineficácia de tal renovação.
Mas pensarão os que assim decidiram, que serve hoje para alguma coisa, para além de recolher mais uns cobres, antecipar esse prazo? Serviria, se fossem efectivas tais inspecções.
Atente-se, por exemplo, no número de condutores com mais de 65 anos, logo já sujeitos a exame médico, que andam em sentido contrário nas auto-estradas.
E qual é o número anual de condutores definitivamente impedidos de conduzir, por incapacidade? Alguém o conhece?
Pode impedir-se os simples de cometerem atrocidades na estrada? Não. A menos que se acabe com o trânsito, é claro.
Mas pode cassar-se de uma vez por todas a carta aos incapazes. Pode ser-se exigente no parâmetro do discernimento com os candidatos a condutores. E, por último, é possível amedrontá-los com penas de prisão em caso de provocarem a morte ou a incapacidade, quando ao volante.
Num tempo em que a sociedade enveredou por uma super-protecção dos individuos, da qual é exemplo a lei do tabaco, parece estranho que se ignore esta causa de morte e se insista em procurar em razões outras – o álcool, por exemplo – a causa dos acidentes.
Não se percebe assim que se proíbam os fumadores de frequentar ambientes onde o incómodo e o prejuízo que causam é infinitamente menor do que um homicídio ao volante e se permita que os homicidas continuem nas vias públicas.
Os fumadores não estão proibidos de frequentar tais lugares – não podem é lá fumar.
Da mesma maneira, não se proibiriam os homicidas do volante de andarem na estrada – não poderiam é ir com ele, volante, nas mãos.
por MCV às 02:07 de 06 janeiro 2008 