Terei ouvido mal? Não houve um qualquer responsável pela coisa (sei lá eu que coisa!) que disse que todas as arribas algarvias tinham sido vistoriadas antes da época balnear, como era de resto procedimento habitual? Devo ter ouvido mal. Só isso justifica o facto de depois da derrocada na praia Maria Luísa se terem descoberto ene zonas em risco de desabamento. Há mais uma coisa que me intriga neste assunto – que não tem assunto, como já disse, para além da tragédia, da morte – é, havendo sinalização de perigo, ela não ser homogénea e inequivocamente relativa ao risco em causa, que é o de derrocada. Há aqui, nas arribas à volta de Lisboa, sinalização conspícua e de facílima interpretação. Mas não é uniforme.
Há, em Portugal, desde há anos, a ideia absurda de que a sinalização deve ficar ao critério de cada um em vez de ser igual em todo território nacional e estudada por gente capaz. Qualquer imbecil se mete a criar sinais e a colocá-los no terreno. Risíveis muitos deles, se fosse caso para tal. É que sinalizar bem é coisa que não está ao alcance de qualquer um. Percebe-se mal que o sinal que se vê no arenito (foto de cima) e também nas Azenhas do Mar (2008) seja igual ao de zona perigosa no mar (Porto Novo, 2005) e tenha a bandeira do Instituto de Socorros a Náufragos. Mas não é por haver ou deixar de haver sinalização no cimo das arribas ou em baixo delas que vão morrer mais ou menos pessoas. Acidentes destes são raros e muito poucas vezes previsíveis. A erosão costeira, por muito que custe aos adeptos do catastrofismo, é um fenómeno natural. A costa recua nuns pontos e avança noutros, desde que haja sedimentos, erupções, derrocadas também. É assim que é e não de outra maneira. A menos que se trate da Holanda. Se há hoje menos sedimentos a chegar à linha costeira, será em parte por ficarem retidos nas barragens, em parte por não existirem os tais fenómenos extremos de precipitação que uns quantos dizem ser agora mais frequentes. Por mim, fui há uns anos duas vezes à Praia da Calada, a convite de amigos. Não foi sítio onde me tivesse sentido confortável. O instinto de sobrevivência manifestou-se, cri. por MCV às 21:34 de 26 setembro 2009
TVI
O programa que está agora a ser reemitido na TVI vai dar que falar por estes dias. Não pelo programa, mas pelo dia. E é um dar que falar sem assunto, como de costume. por MCV às 03:56
Repetindo alegorias
adaptado das colecções dos livros infantis Majora por MCV às 22:01 de 25 setembro 2009
Talvez exista uma gíria ou um jargão quaisquer que desculpem e justifiquem a coisa. O certo é que uma das loirinhas da Sky News acabou de dizer que a NASA afirma haver "aitch twenty" na Lua. Disse-o com um beicinho engraçado. Ganham às portuguesas quase todos os dias. por MCV às 04:34
Descobrir a pólvora
Este ano, mais do que em outras alturas, acentuou-se o descrédito nas sondagens publicadas. Apareceram entretanto uns aprendizes de feiticeiro a afirmar que as sondagens não eram a adivinhação do futuro. Descobriram a pólvora. O facto é que as sondagens que respeitam a actos eleitorais sempre foram apresentadas como tal. Como a previsão do que vai acontecer. E é essa a sua razão de ser. Ou não será? Aquilo que toda a gente pode ver é que a probabilidade de acerto aumenta com a grandeza da amostra. E que retirar de amostras pequenas resultados afinados requer história (dados), arte e muita cabecinha. Pressinto que a cabecinha é o que falta. E que ninguém pensa em usar amostras numerosas. Uma coisa que me intriga há tempo é como é que se calcula o coeficiente de preconceito. Que já tomo como certo que existe.
Estou preocupado. Sabemos todos que as técnicas* evoluem de forma exponencial, muitas vezes sem nos darmos conta disso. Ora eu não me queixo de ser escutado, lido, observado, inspeccionado. Às claras ou às escuras. Queixo-me de algo muito mais terrível. De estar a ser influenciado nos meus sonhos, com a possibilidade óbvia de a informação decorrente dessa bem conduzida influência estar a ser canalizada para uma máquina onde se proceda à sua descodificação. Sucede que em três dias, dois foram consagrados a aventuras na companhia do Gato Fedorento. Isso é tanto mais improvável quanto a minha distância a tal trupe é coisa que se considere. Dela apenas tomei conhecimento quando comecei a ler aqui nos blogues gente entusiasmada com as edições em DVD dos seus programas. Não nego que vi alguns deles na época em que passavam na RTP e que assisti a quase todas as entrevistas desta campanha eleitoral na SIC. Deles digo o que diria de qualquer outro artista que me prendesse a atenção – têm coisas com piada e outras sem pinga de. Não vejo portanto nada que justifique esta interferência dois dias em três. Caramba, são 66,6666... % de sonhos ocupados. Ele foi a linha de comboio da Sonae para Tróia, ao longo da costa, a partir do Algarve. Ele foi o velho em Setúbal que alugava armazéns e que dizia que uma moldura desalinhada num canto era o equivalente a um espelho partido e um sintoma de intrusão. Ele foram os fãs à porta do armazém do velho, que nos estava em parte consignado, e dos quais supusemos terem carregado os materiais cenográficos para a camioneta, que afinal tinham sido roubados, como suspeitava o velho. Ele foram as festas da vila e uma piscina por lá que eu não conhecia. Ele foi um helicóptero que eu montei qual meccano (eu que nunca fui de Meccano mas sempre de Lego) para ir acudir a um fogo para os lados da serra algarvia enquanto um deles enchia lá na ribeira um balde de 15 litros atado a uma corda para assim atacarmos o fogo de alto. Ele foram as cabeças de cão à venda para petisco e os pintos sem olhos nas mesmas bancas sobre a ponte. Ele foi afinal, e isto sim perturbou-me e convenceu-me de que estava a ser vítima de intrusão de um qualquer programa Morfeu – uma altura em que eu perguntava, duvidando, se eles estavam a ver a mesma exacta coisa do que eu, a qual era uma grande instalação industrial do princípio do século XX, estendendo-se pelo vale à nossa frente e ocupando a encosta na nossa retaguarda, enquanto com uma mão apalpava uma matéria compósita de madeira e tecido grosseiro que me aparecia como saída de um rolo de uma máquina a que eu estava quase encostado, especado à frente de uma fachada altíssima, cinzenta e com janelas em arco. Tenho ou não tenho razão para estar preocupado? É que como devem calcular, o entretanto foi densamente preenchido por piadas. Umas mais bem conseguidas, outras nem por isso.
imagem alarvemente roubada e adaptada do site do programa actual *mal comparado por MCV às 21:07 de 23 setembro 2009
Duas notas pessoais, avulsas e sem ligação entre si
Há alguns anos que o nome de Santo Quintino colidia com a minha ideia geral de que dependia de começar ou não por vogal o nome do santificado, para assim se usar Santo ou São. Mas levava isso do Quintino à conta de bizarria, de excepção à regra. Hoje, São Ane abalou definitivamente essa minha ideia regular, fruto, já vejo, de muita ignorância.
O caso das escutas em Belém, de resto muitíssimo bem escrutinado pelo Comendador Marques de Correia aqui há semanas na última página da Revista Única do Expresso, apenas me respondeu a uma questão que me atormentava há anos – quem era aquele senhor de óculos de aros grossos, não sem uma certa bonomia, que sempre se perfilava atrás do Presidente?
(um destes dias ainda hei-de discorrer sobre a instante questão da disposição e atitude dos elementos que emolduram um dignitário sempre que este é apanhado em plena rua por uma câmara de televisão e da necessidade que há de definir protocolarmente uma e outra) por MCV às 18:45 de 21 setembro 2009
À atenção do товарищ Jerónimo
As minas das quais o товарищ Vital anunciou a reabertura foram as de São Domingos. Coisa que de resto parece ainda mais complicada. Mas ele lá saberá. Pela minha parte, confesso que não tenho barómetro, conforme imagem em anexo e minha Palavra de Honra. Nem sequer tenho – com muita pena minha – um daqueles galos que mudam de cor.