Eu não ligo muito a efemérides. Nem às pessoais. Mas como isto aqui é outra coisa, até peço prendas. Todos os contributos para a caderneta dos cromos das estradas, aqui ao lado, serão bem vindos. Já agora, também peço chapas de matrícula municipais dos velocípedes, enquanto as há.
Pertenço ao grupo dos ignorantes enciclopédicos. Por tal pertença, pago o preço de quase nunca saber onde e quando há (houve) interessantes reflexões sobre aqueles temas mais comuns à coisa, à condição humana. Quantas gentes não terão já discorrido sobre o peso que a mochila da memória não constitui para aqueles que a carregam? E de como esse peso é carga para uns e leve pena para outros. Pois começa a pesar-me nos ombros esse embrulho. Estes cinco anos que hoje se completam de registos aqui feitos, são já parte dele. Uma parte mais visível, uma vez que facilmente posso percorrer estas calendas e encalhar com uma frase, com uma fotografia, e logo desencadear um torvelinho de coisas cadentes, como quem mexe numa despensa mal amanhada e vê pilhas de coisas caírem-lhe em cima. Não sei se a memória é uma coisa boa. Suponho que seja mais aprazível para todos aqueles que tiveram uma trajectória ascendente de vida (seja lá isso o que fôr) do que para os que, como eu, percorrem um trilho descendente desde a época em que o mundo entra por todos os poros, por todos e em todos os sentidos. Pertenço também ao grupo dos que só se sentem capazes para serem taxativos no universo das convenções. Só quando os limites do jogo e as suas regras são facilmente entendíveis é que se permitem ser irredutíveis. E são-no. Sou-o. Não abdico de certezas absolutas em jogos de circunstâncias inteiras e pequenas, seja eu capaz de as adquirir, deduzindo-as ou adquirindo-as por compreensão. Essa incapacidade de ser assertivo quanto ao que significa, em comparação com o Mundo, a carga que transporto e o que caminho que percorro, metaforicamente quase paradoxal, pois se o caminho é descendente, a carga deveria talvez ser menos onerosa. Talvez. Na descida, também a carga às costas nos empurra para o abismo. Essa incapacidade, dizia, não me deveria deixar escrever tantas linhas para dizer tão pouco. Seria preciso para tanto que o discernimento não me fosse abandonando também. Não me apercebi então, cinco anos atrás, de que estava a iniciar esta tarefa no primeiro dia do ano. Talvez que qualquer atavismo o tivesse assim ditado, à revelia da consciência. por MCV às 23:27
Ia eu escrever que me odemirava de este ano ainda não ter ouvido pronunciar a deliciosa “riantrê”, com o adicionado i bem sonoro, quando Jerónimo de Sousa me veio abafar o pretexto. Ora bolas! Mas ainda ando odemirado por não ouvir falar em estrelas cadentes e em espectáculo único e irrepetível. Qual será a razão? por MCV às 20:31 de 15 agosto 2008
De entre os insondáveis mistérios da mente humana, há uns quantos que me fascinam.
Um deles é a capacidade que os sítios têm de nos suscitar prazer desmesurado só pela sua contemplação, ainda por mais indirecta.
Outro é a nossa ligação a sítios dos quais nos apossamos sentimentalmente, à revelia dos seus donos, e sobre os quais julgamos ter direitos estéticos, direitos esses que nos conferem a capacidade de nos insurgirmos contra as modificações neles operadas pelos seus legítimos proprietários.
Há uma meia-dúzia de anos, tropecei num filme de Pilar Miró, “El pájaro de la felicidad”.
Se me perguntarem, direi que o que me enredou nele foi a casa em Almeria onde tem lugar a parte final da acção.
Se me perguntarem, direi que é o deserto que a envolve, o mar ali à frente, os traços simples, a semelhança com casas de familiares, a quase certeza de já ter deambulado por todos aqueles compartimentos, de ter subido aquelas escadas, descansado à sombra, atrás daquela arcada.
Se me perguntarem, direi que aquela não é (era) a casa dos meus sonhos mas uma casa com a qual poderia ter sonhado acordado.
Tempos depois, andava eu a tentar saber coisas sobre o lugar, sobre a casa.
Num tempo em que a informação na rede era uma ínfima parte do que é hoje e em que os dados que dispunha sobre o filme eram pouco mais do que os do genérico final.
Mais tarde, já uns anos decorridos, uma noite a tentar encontrar no Google Earth a dita casa. Não era agulha em palheiro, mas quase.
Errei. Escolhi uma casa a 714 m de distância. Um erro indesculpável.
Por estes dias, a propósito de algo muito diferente, tropecei nessa memória.
Fui à procura de mais dados. Descobri que a casa fora convertida num hotel. Modificada e ampliada.
O resultado é, para mim, tristemente pobre. Até criminoso, digo-o para os meus botões com o tal direito estético que me arrogo sobre os bens alheios.
Pode ver-se no YouTube um trecho do filme acrescentado no final da transformação do edifício.
E esta é a ligação para a página do Hotel El Paraíso (que raio de nome!)
É infelizmente ainda maioritária a corrente que confunde os desejos e as emoções com a observação da realidade. Talvez nunca deixe de o ser, enquanto houver humanos. Estava mesmo agora aqui a ouvir o Prof. Fiolhais (nem de propósito) a discorrer sobre um algoritmo que prevê comportamentos da matéria. Se houvesse nas profissões em –ólogo, como de resto já referi aqui certa vez, mais gente capaz de perceber o que dizem as Leis da Física, talvez não houvesse entre os políticos tanta surpresa de cada vez que o solo social treme. Enquanto isso, ficamos com os modistas que pensam com os pés e acham sempre que há uma justiça para as coisas e que todas as decisões se devem conformar com ela. por MCV às 21:39 de 11 agosto 2008
As obras da* Caparica
Tem que ser nesta altura do ano (que as obras devem ser feitas) por causa da ondulação – cito de memória alguém responsável pela recolocação de areias na* Caparica.
Mas em meados de Agosto??? Só agora é que a ondulação o permite??? E quando acabarem os trabalhos, qual será a altura esperada da ondulação?
É esta gente que toma decisões em Portugal.
* deverei escrever "de Caparica", "em Caparica"? por MCV às 20:59
O cheiro a balneário e os recordes nacionais
Acho que estas coisas se adquirem no cedo. Ou então já estão embutidas algures. Não tenho memória de quando comecei a detestar o cheiro a balneário. Sempre quis distância desses locais húmidos e colectivos, onde me parecia que a razão abandonava os humanos.
Talvez por isso essa distância se mantivesse em relação a todos os assuntos que com eles estivessem vagamente relacionados. Esta coisa de jogos olímpicos e afins sempre me passou ao lado, embora tenha vaga ideia de algumas coisas, tal como o salto de Bob Beamon e outras menos significantes.
No meio disso, há algo na minha memória que me diz que havia um conflito qualquer na minha mente quando ouvia falar em recordes nacionais batidos no estrangeiro. Pois se eram nacionais haveriam de ter sido batidos em território nacional. Talvez uma boa designação fosse “recordes de atletas nacionais”, acho que era isso que me ocorria. Não me passava nessa época pela cabeça que os recordes nacionais pudessem ser batidos por estrangeiros. E não é que podem? por MCV às 18:36 de 10 agosto 2008
Entrementes na primitiva Ibéria... (II)
O meu palpite é que, para já, a coisa vai ficar mesmo pelas escaramuças. Em maior ou menor escala. Veremos o que se segue. por MCV às 16:17