O estranho hoje foi terem desatado a aparecer colegas de escola. Confesso que quando perguntei ao Mariano se ele ainda me conhecia, o que eu queria dizer é que dele já só me lembrava em sonhos. Mas apareceram vários. Aos últimos, até enumerei as presenças anteriores. É certo que fiquei convencido de que eles apareciam lá na sala de jantar sem saberem bem de quem era a casa. Mas também não se espantavam muito quando eu os interpelava. Depois lá fiz de cicerone. Mostrei a casa e inevitavelmente as minhas recentes descobertas. Esta magnífica porta nunca se tinha dado por ela, que eu me lembre. Toda esta zona do quintal estava aterrada e não se sabia que existia esta espécie de caramanchão. Mesmo este trabalho em pedra, neo-manuelino, estava como que entaipado e só demos por ele há pouco tempo. Saímos pela rua e mostrei então as atrocidades que os novos proprietários acabavam de erigir. Quase sempre dando notícia do que era a anterior situação. Aqui era muro, ali havia árvores de fruto, até ali ao fundo onde estão aquelas marcas de uma empena na falésia (ou será um muro de suporte?) ainda era nosso. Depois, olhei para trás e reparei que já me estava a esticar. A esticar os domínios. Afinal era lá atrás que era o sesmo. Voltámos pela ponta da vila. Cumprimentei umas caras estranhas em portas conhecidas. Depois, ali na zona em que surge, à esquerda, a rua que tem os tais cafés afamados, saiu-me um homem ao caminho, com um ar misto de determinação e de quem-não-quer-a-coisa. Queria saber se a cortiça tinha dado. Quando voltámos a casa, fomos encostar-nos à janela grande que tem as tais pilastras neo-manuelinas. Olhei mais de perto e pareceram-me de chumbo feitas. Ainda mais e já era uma espécie de filigrana em alumínio. Disfarcei. por MCV às 05:35 de 25 junho 2005
Nunca lá fui nesta data. Vaga ideia das histórias que o meu pai, alentejano pois, me contou das épicas noites do dito, dos tempos em que andava pela D. Manuel II. A ele, sempre o vi com um brilho nos olhos quando se falava na Inbicta. Brilho que quase fez com que eu próprio lá fosse nascer. Casado com o arco do amigo Edgar. Embalado com os poemas do amigo Jorge. Assim não foi. Nasci aqui pela capital do Império. Ainda hoje tenho um deficit para com o Porto. Contas a ajustar. por MCV às 23:19 de 23 junho 2005
H2O
Recordo-me das conversas sobre os convénios ibéricos da água. E da história da barragem de Gabcikovo-Nagymaros. Recordo-me de disputas a outra escala, resolvidas a tiro de caçadeira. Recordo-me ainda de ouvir, há décadas, os argumentos dos que profetizavam as guerras da água. Guerras da água sempre houve. Talvez tenham nascido com a vida, tal como a entendemos. A imagem abaixo, que todos conhecemos e temos em memória, parece mostrar uma espécie de queimadura peritropical. Sabemos ou julgamos saber que algumas destas regiões foram há milénios mais férteis. Há sinais disso. Trata-se de uma evolução que independe da humanização do planeta, pelo menos na escala a que hoje suspeitamos que estamos a interferir. Saber como evoluirá a mancha amarela não parece fácil. Desconfio sempre da extrapolação de um troço mínimo de uma curva para explicar uma função. Mas suponhamos que ela alastra. Como se vê, estamos na zona de transição. A agravar-se a falta de água, é lirismo puro contar com a água que vem de Espanha. Em última análise, será até lirismo contar com a água que cai sobre o rectângulo. A suceder tal, sobreviveremos aqui num formato semelhante ao dos países de deserto feitos. E teremos que ir buscar a água onde ela ainda abunda, ao vizinho do lado. E não será a Espanha. Ou então, fazemos as malas. O meu caseiro desenganava-me, um destes dias, enquanto contemplávamos magníficas sobreiras quebradas à seca e especulávamos sobre a sua capacidade de regeneração: "Parece que é lá para 2012 que isto fica um deserto." Fiquei sem saber de onde lhe vinha a profecia. Se da atávica interpretação dos sinais se de outro lado qualquer.
Pois. Ninguém me mandou falar no Splash. Apanharam-te, Paulo. Achas que ponha aqui que já és casado há uma meia dúzia de anos? Será a mesma daquela noite em Almodôvar? A que te disse que sim, que era boa, mas que era muito estúpida. E à minha frente, pá. Ou aquela em quem deste uma porrada no carro à saída da estrada velha? Essa nunca a vi. Só me disseste que tinha sido pena o teu pai ir contigo nessa altura. por MCV às 22:46 de 21 junho 2005
As coisas mais simples
Irrito-me, pronto. De ouvir um dia inteiro que o Verão começou às 6:46. Só lêem as gordas? Ou o O.A.L. não percebe nada do assunto? por MCV às 18:05
Realidade, imagens e medidas
Já todos sabemos que só acontece verdadeiramente o que passa na televisão. Os incêndios, a seca, os discursos à hora do telejornal, etc. Os assaltos e a violência nos comboios suburbanos mereceram finalmente uma medida anunciada. É que, até aqui, nada acontecia. Talvez comecem finalmente a perceber uma das razões pelas quais há tantos carros no IC 19. Talvez o resto do país se aperceba também de que existe um problema sério. Porque os que moram em certos locais, há muito que o conhecem.
E os dias que começam a encurtar... por MCV às 07:46
Malária, sapatinhos e peixes-agulha
Há quem defenda que eu sou bom para secar pauis. Há mesmo quem afirme haver provas de que me encontro imune à malária. Provas é claro recolhidas junto de outros, nunca nada comigo. Dado nunca ter padecido de tal, embora a minha distância a zonas de risco se tenha sempre mantido razoavelmente segura, abano a cabeça e digo que sim. Que é assim mesmo. No entanto, uma coisa é facto. Nas tradicionais noites de verão, em que existem, mas em número menor, os habituais vectores aéreos, terrestres e navais, eu sou o que escapa ileso às investidas. Ou aparentemente ileso. Dizem que isso acontece até ao dia em que nos encontramos sozinhos ou com uma companhia ainda mais blindada. E que é então que a nossa superioridade cai por terra. Seja. Outro facto que se pode, assim a talhe de foice, enquadrar aqui é a minha também aparente imunidade aos não menos temidos ataques navais de alforrecas e peixes-aranha. Começo por me interrogar, quanto às primeiras e afins, por que raio há um hidrozoário a que chamam os anglófonos de Portuguese Man-of-War? Não sei a razão mas temo que se relacione com algum parente afastado que terá determinado a imunidade aos seus próximos e mais distantes. Quanto aos últimos, recordo-me de uns sapatinhos amaricados que alguns compravam para se arriscarem nas águas da praia Vasco da Gama, local então propício à picadela dos disfarçados aranhas. Eram assim em plástico branco translúcido e havia notícia de que assavam os pés. Muitos anos depois de tais sapatinhos serem moda ou necessidade, um episódio relacionado marcou-me. Um dos meus hospedeiros estivais presenteava-me à abalada com um exemplar de peixe-agulha que acabava de retirar de um armário de seca. Com um sorriso, enumerava as bebidas que marchavam bem com tal petisco. O que me marcou foi a minha fiel navegadora se ter apressado a livrar-se do petisco que eu também tão pressurosamente acondicionara na mala do carro. Disse ela que era o cheiro. Eu ainda hoje acho que ela confundiu agulha com aranha e se deve ter lembrado dos sapatinhos de plástico.
47 sismos registados em 48 horas? Algum festival e a malta aos saltos para aqueles lados, tipo teste para o World Jump Day? É ver aqui. por MCV às 03:51