Ano XXII Pargos e pontes, que sei eu?
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A história e a rede A rede é hoje a ferramenta de consulta por excelência. É a grande enciclopédia sempre à mão e de pouco peso. Mas a rede tem uma inquinação. Os jornais já se sabe, servem para consulta do quotidiano. Cobrem épocas bem determinadas. Os livros cobrem temas com maior ou menor extensão no tempo. A rede aparenta cobrir tudo. Mas ilude quanto ao tempo. Dá uma excessiva ponderação aos factos ocorridos depois da sua generalização. Em tempos em que a memória já é curta, potencia o seu encurtamento. O dia do eremita que sabia adicionar aproxima-se. (Myron Aub não era eremita e também sabia multiplicar, mas o eremitério é o destino dos quase profetas) Para que conste (post dedicado aos apostadores que aqui vêm à procura da sorte) Depois de 1h e 33m de cálculos, o meu programazinho extraiu 3 chaves: 3,7,11,29,30,43 3,7,11,29,30,49 11,13,31,39,40,43 como já estamos nas 20h, podem copiar à vontade. Assim, ficam a saber que não vale a pena cair aqui à procura de palpites. São todos furados. Como se isto obstasse a que continuem aqui a procurar pela sorte. Outras surpresas Talvez isto pareça estranho aos leitores do Brasil. Aqui temos a ideia de que o Carnaval no Brasil é como as iscas aqui – ou se ama ou se odeia, ninguém fica indiferente. Mas o facto é que nunca estive muito familiarizado com as epactas. Por isso, o Carnaval quase sempre me apanhava de surpresa. Fazia-se anunciar pelo bzzzzz da bicha-de-rabiar, pelo estampido do estalinho, pelo sonoro bum das bombas. E na montra das minhas predilecções, lá estavam as serpentinas e os papelinhos. Então acordava para a época. A mim, seduziam as bisnagas – as pistolas de água. Quantas vezes não acontecia ao James Bond de pasta para as aulas sentir a perna encharcada pela súbita descarga da traiçoeira arma escondida no bolso das calças. Nunca gostei das vira-bicos. Nunca se sabia bem para onde é que se apontava. Tive um bisnaga preferida. Era uma cópia 3D da pistola de João Bafo-de-Onça. De borracha azul acinzentada. Uma verdadeira bisnaga que não dependia de gatilho e de êmbolo. Era muito pouco eficaz como pistola de água, nada que se comparasse com as Parabellum de plástico translúcido. Mas por alguma razão estranha, de que eu apenas suspeito, tomei-lhe aborrecimento. Pior, excomunguei-a. Só de olhar para qualquer outra que se assemelhasse, viravam-se-me as tripas. Hoje, gostava de saber onde pára. Talvez ainda se encontre dentro de algum caixote nesse mundo de causas perdidas que são os depósitos de tralha que mantenho espalhados pelos quatro cantos do meu reino. Fazer o quê? O Carnaval deve estar a chegar, digo eu... Água vai e a extinção das espécies Às vezes ainda me surpreendo. Um calmo diálogo familiar travado em português a dois sotaques pode ser interrompido pelo insólito. De um urbano sexto andar fronteiro, enquanto discutíamos a persistência da humidade matinal no betão dos paralelipípedos, vê-se o tradicional gesto de água vai. Pensei que me tinha equivocado, que tinha sido uma qualquer ilusão óptica. Mas não. Eis que o gesto se repete, um braço nu e uma bacia de plástico descrevem um arco a pouco menos de 20 m de altura. De repente, vem-me à memória um passeio por Trás-os-Montes em que, numa aldeia de fronteira, acompanhado por um cicerone de ocasião que mal me viu apontar a máquina de filmar se tornou companheiro de andanças, quase me expus a um banho de águas residuais. Por ruas desertas, conduzia-me à igreja que era na opinião dele o lugar certo para fotografar. Detive-me por momentos olhando uma velha e seu cão, sentados ao sol de inverno na soleira da porta. Nesse instante de imprevidência, uma outra velha mulher abriu a janela quase na minha vertical e lançou à rua um jorro de águas. Ninguém se perturbou. Eu não reagi, de surpreendido. O meu companheiro continuava a andar paulatinamente para o adro da igreja. A velha da porta e o seu cão não mostraram quaisquer sinais de atenção ao ocorrido. A outra fechou a janela e desapareceu. Continuei sem que nada fosse. Nada tinha sido, de facto. Agora lembro-me da praia onde passava os meus verões de infância. Da água que corria pelos regueirões nas ruas, sobrevoada por enormes insectos que eu apelidava de helicópteros. Há muito que essa colónia de insectos voadores se extinguiu. Ninguém parece preocupado com isso. Mistérios. O que é que há de novo? De vez em quando bato na tecla das actualidades. Quase sempre para dizer que, embora os jornalistas mostrem o contrário, não há nada de novo na frente. E que quando há, são incapazes de o reconhecer. Não se pode dizer que estejamos face a algo de completamente novo. Avanços e recuos são a história do homem. Mas voltar à lua ou a decisão de o fazer é um marco histórico. Se realmente assim fôr, é a história a repegar as suas teias. Mas, como já disse JPP, são os aspectos laterais da coisa que fazem notícia. Não sei qual é a razão. Provavelmente é porque interessa a mais gente a pequena história. Talvez desta vez os jornalistas tenham razão. Talvez se dirijam à maioria, sem o saber. Quantos serão os que hoje escrevem nestes espaços e que testemunharam a noitada de Julho de 1969? imagem em E agora? Bem, em primeiro lugar, quero deixar aqui bem expresso aos amigos da Brigada Anti-Lacoste que se não falei aqui há mais tempo do concurso foi porque, apesar do parco número de visitantes que tenho, temia a concorrência. Agora que chegou ao fim, e que não há nada como palpites à segunda-feira (hoje é sexta?), já posso dizer que sabia 14 das 15 respostas. Também posso dizer que gosto destes desafios. E que fico à espera de mais. Anotação posterior: Estúpido! - as respostas que sabias eram 15 em 16, nem ler sabes! O electricista espantado O povo lá diz "Santos de casa não fazem milagres". E não há nada de mais certo quando se trata de dar palpites em pequenas ou grandes reparações domésticas a certa pessoa. Certa vez foi um fio de ligação de um candeeiro de tecto que se desligou. Nada mais fácil. Mas como a coisa não foi resolvida de imediato, pois o tal fiozinho tinha a ponta curta e era preciso fazer um enxerto e a posição de trabalho não era das mais favoráveis, a tal pessoa aproveitou o pedreiro curioso que andava lá a pôr uns mosaicos para pedir uma opinião. Quando eu cheguei, o homem preparava-se para opinar doutamente sobre a solução a adoptar, empoleirado em cima de um escadote. "Desligou a energia?" - perguntei-lhe. "Não. Não é preciso. Então o interruptor não está desligado?" - já me considerava um analfabeto na matéria. "E você não tem um busca-pólos? É que eu não tenho a certeza se o interruptor está antes ou depois da lâmpada" - insistia eu, preocupado com o à-vontade dele. Não me respondeu. Ou eu expliquei-me mal ou ele não fazia ideia do que era um interruptor antes ou um interruptor depois. Não me deu tempo de ir desligar a energia. Avançou com o alicate para puxar a ponta do fio e pumba, tocou com as pontas do alicate nos dois fios. Não é preciso pôr aqui a fotografia do homem espantado que desceu do escadote. Vá lá que o alicate era isolado. Perguntou-me se o interruptor estava avariado. Eu não lhe consegui explicar que o interruptor estava bom, mas que agora tinha a certeza de que estava depois da lâmpada. É claro que tive que fazer eu o resto do trabalho. É possível que ele tenha ido depois contar a um electricista amigo o que lhe aconteceu. Mas não deve ter falado em interruptores antes e depois de lâmpadas. Os sonhos Já falei aqui de sonhos. Não dos sonhos de cada dia, mas dos sonhos nocturnos que ainda pairam ao acordarmos. Uns perduram, outros escorrem pelo cano a uma velocidade vertiginosa. Já li alguma coisa sobre a interpretação dos ditos e, confesso, pareceu-me que se queria encontrar uma explicação imediata para tudo. Há sempre um trauma, uma recordação, isto e aquilo na ponta do fio. Não sei, não me parece assim tão fácil. Não consigo encontrar uma causa para se sonhar noites a fio com uma espécie de bandas multicor que passam da direita para a esquerda, e vice-versa, como rodapés de telejornal. Apenas as bandas em fundo vermelho a escorregar para azul. Nada mais. Isto muitos anos antes de tais bandas surgirem nos écrans. Existiam apenas nos painéis publicitários luminosos. Sombrinhas e chapéus de chuva Fui habituado assim. O adereço masculino era chapéu de chuva (ou guarda-chuva), o feminino era sombrinha. Mais, era vedado ao homem andar de chapéu de chuva que não fosse preto, excepção feita a certos chapéus rústicos de pano azul. Descontando aqui a questão da côr preta, que aparentemente claudicou em último lugar aos pés desta peça de aparato, depois de ter abandonado os fatos, os automóveis, as máquinas fotográficas e os telefones, sendo primeiramente substituída nos chapéus de chuva pelas cores atribiliárias da publicidade e mais tarde por padrões vagamente escoceses, passemos aos outros aspectos. Parece que ninguém sabe ao certo qual foi a sua função primeira: se a de sombrinha, se a de guarda-chuva, se a de adereço. Provavelmente logo as três. Para as suas duas funções hoje essenciais, proteger do sol e da chuva, os requisitos são diferentes, quer na côr quer nas características do tecido, uma vez que se parece aconselhado a uma sombrinha propriamente dita ser branca e permeável, já um guarda-chuva, embora a côr não importe, é razoável que seja impermeável. Ora as sombrinhas que apenas protegiam do sol, depois de terem estado muito em voga ainda no século passado, são hoje peças de museu. Qualquer pessoa que em dias de canícula use um acessório destes opta por um chapéu de chuva. O dois em um tomou conta destes objectos. Mesmo que o meu chapéu de chuva azul de cabo de madeira seja permeável e que o caseiro lá do monte insista em chamar-lhe sombrinha. Atraso e ignorância minha. Não sei o nome da minha fada Eu, que até tenho boa memória, não me lembro. É estranho, tão estranho como a minha relação com ela. Conheci-a, talvez seja melhor dizer vi-a a primeira vez, ainda menino. Andava no mesmo colégio do que eu, e era mais velha. Por alguma razão gostou de mim. Sorria-me sempre. Sabia o meu nome. Mas pouco falámos. Depois perdi-a de vista. Voltei a encontrá-la muitos anos depois, certa tarde num café. Sorriu-me e chamou-me pelo nome. Era agora uma mulher bonita, alta e elegante. Dava muito nas vistas mas tinha o ar angelical que às fadas compete. E voltei a perdê-la. Encontrei-a mais tarde numa rua de Lisboa. Transportava sinais de quem frequentava a mesma escola do que eu. Falámos pouco, não lhe perguntei onde estudava. E uns tempos depois, vi-a na escola. Uma única vez. Depois disso, encontrei-a uma vez à saída de um comboio. Há três dias, vi-a pela última vez. Envelheceu, a minha fada. Não disse o meu nome mas continua bonita. E continua a emanar aquela sensação estranha de bem-estar. E é uma das poucas pessoas que me reconhece sempre, mesmo que os anos passem no meu rosto. Lavando mais branco O mundo está cheio de conceitos absurdos. Quase sempre surgidos na voragem da inovação ignorante. Sem o devido olhar à volta, sem a mínima reflexão. Uma das pérolas mais famosas é o conceito de lavagem de dinheiro, que de resto pegou de estaca. Se alguém me conseguir demonstrar que existe uma forte razão para tal conceito não ser absurdo, eu fico grato. Se alguém me explicar porque é que é crime, mais grato fico. Na minha modesta opinião, trata-se apenas de um mecanismo para tentar apreender capitais que, de outra forma, seriam inalcançáveis. Mas que tem uma designação estúpida, lá isso tem. Mesmo que se alegue que é uma designação histórica, que tem que ver com lavandarias. É que hoje já não tem esse significado. Parece bem claro que uma coisa é obter dinheiro de forma ilícita; outra, completamente diferente, é utilizá-lo depois de forma lícita. O dinheiro deixa de ser ilícito? Claro que não. Deixa de ser sujo? Claro que não. A questão é interceptá-lo no seu tráfego de ilicitude ou depois disso. A questão não é, nem pode ser, o que se faz ao dinheiro depois de o roubar ou obter de outra forma. É, e será sempre, a forma como foi obtido. Se alguém monta diligentemente uma fábrica com dinheiro roubado, a fábrica pertence-lhe? Se compra depois modestamente um Ferrari, fica com ele? A questão aqui é que pouca vez é roubado, quase sempre é fruto de negócios proibidos. Mas o conceito mais uma vez não colhe. Não faz sentido. Duas notas de rodapé: Ainda sou do tempo em que circulavam boatos de que alguns corriam o país à cata de cautelas de lotaria premiadas para as comprar. E também sou do tempo em que circulou o rumor de que as notas de euro quando iam à máquina de lavar perdiam muita cor. Mais dos que os nossos queridos e saudosos escudos. Com euros, ainda não fiz a experiência. imagem tratada a partir desta A importância Google Quem tenha activada a barra Google no IExplorer, vê a importância Google das páginas que visita. Haverá outras formas de o fazer mas não sei quais são. A mim, apareceu-me a barra Google depois de alguma instalação do IE a que fui alheio. Nunca me preocupei muito com o assunto até que um dia pensei que raio será isto de PageRank? Que rank? Feito como? Depois lá me pus a investigar o mecanismo da coisa. Não sabendo os pormenores completos do funcionamento, fica-se com uma noção de como são elaboradas estas hierarquias. E sempre é o Rank do Sr.Page e do seu sócio. E agora? Iremos começar a dizer: O meu nível é 3! Nem sequer tens nível Google... O teu nível é 0, zeeeero! Olha, ela é uma Google 7! Só me caso contigo quando tiveres nível 6! Será que é isso? Coincidências É provável que hoje se atinjam as 1500 visitas aqui, enquanto no Blogger da Globo se chegará às 4000. Considerando que o contador foi o mesmo até cerca das 1140 visitas, a explicação do desfasamento residirá no maior número de leitores brasileiros, nas aparições nos Fresh Blogs e na preferência do Google pela versão branca do Blogger da Globo. Deve ser isso. (enquanto isso JPP ultrapassou hoje os 350000!) Vaca fria Concluir que existe uma coerência nas notas aqui deixadas nos últimos meses é uma impossibilidade. Creio que se aplica a todos. A todo o ser humano e à sua obra. O mistério vem da invenção da razão. Seja lá isso o que fôr. Mas creio que não andaremos longe se identificarmos a razão e o racionalismo com a necessidade de estruturar, arrumar e fazer depender de um conjunto de regras, o pensamento humano. Cada um terá a sua noção do que é. Não faltam tratados sobre o assunto. O mister é saber se o pensamento humano é compaginável com aproximações mais ou menos rigorosas. Quando ele próprio é, à partida, um mistério insolúvel. E todas as construções mentais que se possam fazer sobre ele, é nele que radicam. A pescadinha de rabo na boca. Tenho sobre as coisas a vaga suspeita, já aqui referida, de que estamos única e exclusivamente dependentes dos caprichos da vida. Não do fado cantado, mas dessa misteriosa característica que anima os seres vivos. Que faz e desfaz espécies, que as adapta, que as mobiliza com o único aparente intuito de se perpetuar, seja sob que forma fôr. Não estamos a salvo enquanto espécie, dos arbítrios dessa misteriosa força(?). Até a ordem para nos extinguirmos poderemos receber. Não somos nisso diferentes das outras espécies. Por isso, suspeito também que qualquer coisa que eu possa pensar e dizer tem mais a ver com um comando que me é dado, do que com a minha própria vontade (o que será isso?). Coisas que penso e digo em reacção a estímulos exteriores ao indíviduo que sou e em consequência da ordem que recebo face a esses estímulos. Não creio que seja muito mais do que isso. Se eu fosse um homem de fé (não o serei porquê?), encaixaria todos estes argumentos na vontade divina e descansava. Seria assim? Como não sou, suspeito apenas que algo me impeliu mais uma vez a escrever estas linhas. Apenas para mostrar a mim próprio, é disso que me convenceram as estranhas pulsões que me comandam, que escreva eu o que escrever, nunca serei coerente. Não o serei porque apesar de todas estas suspeitas, a maior parte das vezes convenço-me de que existe uma razão e uns estão mais perto dela do que outros. Identifico comportamentos e raciocínios criticáveis e disso dou conta. Falo de emoções e qualifico-as. De justiça e de injustiça. Do belo e do feio. Sem suspeitar então que estou a ser comandado. E continuarei. imagem em O pintor de memória Na linha daquela velha história do pintor e do pastor que, para quem não sabe, se pode resumir a poucas linhas: Um pastor encontrou um pintor no meio do campo e depois de observá-lo durante algum tempo, perdeu a timidez e perguntou-lhe: "O senhor também faz retratos?" O pintor que sim, que fazia. "Então, talvez me pudesse fazer um retrato do meu falecido pai. Sabe, nem uma fotografia tenho dele. Talvez se eu lhe dissesse como ele era..." O pintor que, se ele lhe desse uma boa descrição, poderia tentar. Lá se pôs o pastor a rememorizar os traços do pai. Disse-lhe depois o pintor que passasse por aquelas bandas, dali a uns três dias. E assim foi. Ao fim de três dias, o pastor roendo-se de curiosidade, lá se chegou. O pintor estendeu-lhe o quadro: "Este é o meu pai?" - intrigava-se o pastor - "o que os bichos fazem à gente depois de mortos...!" Na linha dessa história, o que os processadores de imagem fazem aos nossos rabiscos em guardanapos de papel: Do que é que falamos quando falamos entre nós? Essa é uma das questões mais persistentes entre os géneros. E talvez onde o desconhecimento seja mais profundo. Vez por outra, caem umas pistas, uma confidência: estivemos a falar de tal e coisa. Mas não há grandes compêndios sobre o assunto. Para mim, os temas femininos constituem ainda um mistério. Embora, parecendo que não, os blogues tenham levantado um pouco o véu. Mas são um mistério e eu procuro não cometer a injustiça de julgar que as mulheres falam sempre dos mesmos temas e que têm todas os mesmos interesses. Isso não pode ser verdade. Claro que não é. E concerteza que um trio de mulheres não é igual a um duo, nem a uma turma de trinta e duas. O número deve fazer a diferença. A precisão da conversa deve aumentar de forma inversa ao número de participantes, digo eu. Quanto aos homens, também não posso traçar um quadro geral. Apenas posso subsumir a partir dos meus grupos de amigos. Das fases por que passam e da localização geográfica. Da instrução e educação que tiveram. Mas, ao contrário do que possam supôr muitas mulheres, se é que o fazem, o tema fêmea não é uma constante nas nossas preocupações. Talvez por ser demasiado delicado e complexo, decididamente não é prioritário. Não que não se comente o exemplar que acabou de se sentar três mesas ao lado e que embasbacou metade da plateia (a outra metade dos sentantes era feminina). Claro que isso acontece. Mas ele há prioridades. Descontando os temas da infância, que já vai longe, há sempre a fase militar que às vezes se prolonga até ao fim da vida, e em que os temas parecem teimar em não vestir à civil. Toda a tropa tem que ser esmiuçada, desde os copos na messe até às semanas de campo. E há, sem dúvida, o futebol. Curiosamente, na minha pálida amostra, verifico que o tema da bola não é tão universal como o militar. O tema da bola parece ganhar importância nas grandes zonas urbanas e perder nas rurais. Aí, é sempre mais importante falar de vacas e de ovelhas, de tractores e de rações. No campo, a bolsa de produtos é um tema importantíssimo. O preço do trigo já foi mais relevante, mas ainda pontua o preço da carcaça de bovino. A política sofre da mesma variação. É analisada à escala nacional na cidade e ponderada a nível local no campo. Não há grande apetência nas cidades para falar da vida alheia. Já no campo... Depois os petiscos, quase uma constante. Aqui, sim, parece haver uma importância nacional. Um tema caro a pobres e a ricos, a campónios e a urbanos. Não há homem que não sorria face à perspectiva de um bom bródio. Depois há interesses mais específicos. Sempre que encontro certos amigos, surge sempre uma conversa de cash-flow, liderança, custo-benefício. O curioso é que não são estes os que realmente lidam com o problema. Normalmente são apenas funcionários. Quanto aos que conheço que põem mesmo a mão na massa, a bem dizer o dinheiro em risco, esses normalmente falam de outras coisas, de viagens e de restaurantes. Não é estranho? Há ainda os que só falam de desporto, que dizem que correm todos os dias não sei quantos quilómetros, etc. Há o tema dos carros, mais na cidade do que no campo. Pelo menos hoje em dia. Creio que, em tempos mais recuados, não era assim. Bem, quanto ao assunto de que falam os dois géneros quando em tête-à-tête, toda a gente sabe o que é. Não vale a pena dizer nada. Altura disso Costumava ser altura disso. De copiar números de telefone de uma agenda para outra. Havia sempre uns que ficavam para trás. Gente a quem recorremos e que já não é útil. Se calhar um amigo que morreu. E aqueles que deixámos de ver há dois anos mas cujo número mantivemos esse tempo. É difícil definir como se perde um amigo. A última vez que o vimos, qual foi? O que é que lhe dissemos: Até amanhã? Agora os telefones encarregam-se disso. Às vezes apagam as memórias sem que a gente dê ordem. E já não há uma época de apagar. Quando a capacidade de armazenar se esgota, apaga-se o tal e coloca-se o do mecânico do carro. Faz mais falta. |